quarta-feira, 29 de agosto de 2012



29 de agosto de 2012 | N° 17176
PAULO SANT’ANA

Os dois papas

Ontem, foi a entrega do Troféu Guri, prêmio anual da Rádio Gaúcha aos rio-grandenses mais destacados.

A solenidade de entrega do troféu foi emocionante, reuniu o governador Tarso Genro, Nelson Sirotsky, Eduardo Melzer e grande número de autoridades e gente do povo.

Cedo da tarde, me toquei para a Expointer para assistir ao ato. E vou explicar agora por quê.

Não sou muito ligado em receber troféus. Tenho muitos troféus e todos me são caros, mas confesso que um troféu que gostaria de receber é o Guri.

Eu sou muito gaúcho. E a canção Guri, de autoria dos irmãos Júlio e João Batista Machado, espelha muito bem o que é ser gaúcho:

Botas feitio do Alegrete,

Esporas do Ibirocai,

Lenço vermelho e guaiaca,

Comprados lá no Uruguai,

Pra que digam quando eu passe

Saiu igualzito ao pai.

Sei que a Rádio Gaúcha não me concede o Troféu Guri por algum de dois motivos ou risca um duplo: porque se constrange em dar o troféu para um funcionário seu há 42 anos e porque talvez eu não o mereça.

Mas eu quereria esse troféu porque não sou o primeiro a reclamá-lo. Quem primeiro clamou por receber este troféu foi o papa João Paulo II, que na Praça do Papa, aqui ao lado do Estádio Olímpico, gritou uma vez diante de incalculável multidão de gaúchos: “Eu sou gaúcho!”.

Foi a maneira que João Paulo II encontrou para pedir que lhe concedessem o Troféu Guri.

A Rádio Gaúcha tem de ser excomungada porque negou o troféu que o Papa implorava. E que eu quase também imploro.

Ser gaúcho é ser imortal ou renascer das cinzas, é respirar o ar da Serra ou do Litoral, da Fronteira, do pampa, ser gaúcho é ser colorado e chamar o Olímpico de chiqueirão ou ser gremista e chamar o Beira-Rio de Coliseu (em ruínas, como se viu no Gre-Nal de domingo passado, ruínas nas arquibancadas e no escore). Ou seja, ser gaúcho é ser extremado rival mas também é ser amoroso companheiro.

Ser gaúcho é ser diferente dos brasileiros de outros Estados mas também é ser igual a todos os demais brasileiros.

Ser gaúcho é amar o Rio Grande acima de todas as coisas e amar o Brasil talvez só porque ele adotou o Rio Grande para si e não abre mão dele, apesar de exóticas ideias separatistas.

Sendo assim, eu e o Papa imploramos que nos concedam o Troféu Guri.

Mas a Rádio Gaúcha, insensivelmente, não concede seu troféu para mim e para o papa João Paulo II.

A Rádio Gaúcha, assim, teima em não atender as súplicas peditórias de dois papas.

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