ELIANE
CANTANHÊDE
Constrangimento
nacional
BRASÍLIA
- A despedida do ministro Cezar Peluso foi não apenas um bom e digno momento do
julgamento do mensalão, mas também do próprio Supremo Tribunal Federal.
Peluso,
com seus 45 anos de carreira no Judiciário, poupou-se de críticas inevitáveis
se votasse em todo o processo antes da manifestação do relator e do revisor,
que seria como usurpar a função de ambos. Votou só no primeiro capítulo.
Evitou
falar em "juridiquês", livrou réus, advogados e telespectadores de
arroubos de vaidade e produziu um voto claro, muito bem argumentado, que merece
aplausos.
Confirmou,
assim, a condenação de todos os réus do primeiro capítulo, exceto os já
absolvidos pela Procuradoria-Geral da República. Estão já condenados, além do
óbvio Marcos Valério e de seus sócios, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato
e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT).
O
ministro condenou João Paulo a seis anos em regime semiaberto e a perda de
mandato, já que ele cometeu os crimes na condição de deputado federal. Sem
contar que as punições já começaram, pois ele não tem a menor condição de
manter sua candidatura a prefeito de Osasco (SP).
Os
demais réus, evidentemente, estão de barbas de molho, pois o julgamento embicou
para uma condenação generalizada. Até aqui, o revisor Ricardo Lewandowski e o
ministro Dias Toffoli estão isolados.
Isso,
porém, deve ser visto com frieza e serenidade. Não há motivo para comemoração e
fogos de artifício quando um dos principais partidos do país -e mais, o partido
que mobilizou a nação com o discurso da ética- chega ao banco dos réus e às
portas da prisão.
Disse
Peluso: "Nenhum juiz verdadeiramente digno de sua vocação condena ninguém
por ódio. Nada me constrange mais do que condenar um réu em matéria
penal". Estamos todos constrangidos. E tristes.
elianec@uol.com.br
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