sexta-feira, 24 de agosto de 2012



24 de agosto de 2012 | N° 17171
DAVID COIMBRA

Um pai com medo

Carlos Stortti é um pai desesperado. Dias atrás, ele enviou e-mail para um grupo de jornalistas a fim de expor seu desespero. Muito apropriadamente, o Pedro Ernesto aproveitou para ler a mensagem no Sala de Redação no dia em que o coronel Freitas, da Brigada, visitava o programa. O texto, simples porém comovente, dizia o seguinte:

“Medo total. Meu filho de 15 anos já foi vítima de assalto três vezes em 2012. Uma vez na saída do Shopping Total e duas vezes em praças à luz do dia. Assaltos com armas – faca e arma de fogo. O guri está traumatizado pelo resto da vida. Quantos assaltos ainda sofrerá? Segurança zero. Onde está a Brigada Militar? Onde está Polícia Civil? Onde está o governo? Parece que nos abandonaram”.

É claro que nós, brasileiros, temos vários problemas de segurança pública. É claro que a culpa não é da Brigada Militar ou da Polícia Civil. É claro que, com leis e governantes mais eficientes, a situação poderia melhorar. Mas não foi nada disso que mais chamou a minha atenção no e-mail do pai angustiado. O que mais chamou a minha atenção foi o topo do texto:

“Medo total”.

No momento, esse é o terrível problema desse pai e desse filho. Não são os assaltos ou a chance de que ocorram de novo. Não. É o medo.

Do que o homem sente medo? Da possibilidade. Coisas ruins podem estar à espreita ali adiante, na esquina ou numa curva fechada do tempo. Não basta você estar bem agora, você quer TER CERTEZA de que estará bem no futuro.

Comecei a experimentar esta sensação depois que nasceu o meu filho. Porque um filho, como bem sabe o pai que escreveu o e-mail, um filho é o futuro. O futuro de pijama e cabelinho molhado, olhando para você e dizendo, sorridente, como o meu guri disse, outro dia:

– O papai cuida de mim.

Aquela frase, em vez de me encher de júbilo, encheu-me de preocupação.

Sim, o papai cuida. Tenta cuidar sempre. Sempre tentará. O Estado, que seria o pai de todos, também deveria tentar cuidar sempre. Mas como cuidar sempre? O pai não vai estar na escola quando o valentão pedir briga, nem estará junto na balada dos fins de semana da adolescência, a polícia não estará vigiando em todas as ruas da cidade, e há a ameaça das doenças, dos acidentes de carro, dos amores frustrados, das dores da alma.

O papai cuida. Mas não é o suficiente.

O que fazer, então?

Não sentir medo. Eis o desafio do pai que escreveu o e-mail, do filho que foi assaltado e de pais e filhos mundo afora: não sentir medo, a despeito dos perigos do mundo. Porque um pouco de medo até é bom, para que você tome precauções. Mas medo demais paralisa. E o futuro virá sem falta. Bom ou ruim. Com ou sem medo.

Um comentário:

Adriana disse...

Muito correta tua matéria, minha filha ja foi assaltada as 15 hs com faca e pergunto cadê a segurança? Você não encontra um policial na rua, o que eles estão fazendo dentro dos quartéis, atividade fisica, comer e dormir? Tem que colocar um policial em cada esquina, tirar esse povo de dentro dos quartéis e mandar pra rua.