CARLOS
HEITOR CONY
O julgamento de Frineia
RIO
DE JANEIRO - Dentro de escassas oportunidades, venho acompanhando o julgamento
do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Impossível
(e inútil) ouvir todos os debates, de qualquer forma, acho que há exagero no
tempo e nas palavras dos respeitáveis ministros. Reconheço que a linguagem e os
detalhes são peculiares à prática da Justiça, mas acho que a tecnologia pode
abreviar as sentenças e pareceres sem perda do conteúdo processual.
Na
Roma antiga e na Grécia, em alguns tribunais, o imperador ou os juízes (no caso
da Grécia central) condenavam ou absolviam os réus de maneira mais simples: levantavam
a mão direita e colocavam o polegar para baixo: era a condenação à morte. Se o
polegar estivesse para cima, era a absolvição. Em ambos os casos, a justiça
seria feita.
Ficou
famoso o caso de Frineia, cuja formosura despertou paixões e ciúmes. Acusada
por um pretendente desprezado de explorar o próprio corpo, foi levada a um júri
de cidadãos ilibados. No momento da sentença, os juízes botaram o polegar para
baixo. Era a condenação fatal. Olavo Bilac tem um poema dedicado ao julgamento
de Frineia: segundo o poeta, ela despiu os véus que a cobriam e surgiu toda
nua, "no triunfo imortal da Carne e da Beleza".
Diante
daquela monumental escultura, um a um os polegares dos juízes foram subindo,
subindo, sendo provável que também subissem outras partes dos respeitáveis
membros do júri.
Não
estou sugerindo um retorno à Antiguidade clássica. Mas um parecer ou voto de 70
laudas, que exige cinco horas para ser lido, podia ser condensado num único
polegar, quer dizer, em 11 polegares para baixo ou para cima.
Desde
que o Marcos Valério não se obrigasse a ficar nu em plenário para ser absolvido.
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