quarta-feira, 15 de agosto de 2012



15 de agosto de 2012 | N° 17162
DIANA CORSO

Meninas de ouro

Nossos gladiadores do futebol encontraram prata, o que não é pouco, mas a medalha dourada deste sábado ficou por conta do voleibol feminino. Um pequeno grupo de jovens mulheres em campo, numa sintonia de olhares, braços em vez de pernas, entrosamento total, um fascinante sentimento de equipe. Um jogo lindo, que me trouxe evocações interessantes.

Entendo os esportes até por aí. Assistindo, irrito a família com perguntas impróprias. Como jogadora escolar era garantia de ponto para o adversário. Mão furada total, era a bola que me achava e não o contrário. Numa carreira de catástrofes esportivas, o vôlei era a modalidade em que mais me doía ser tão lesa.

Uso óculos, passei a muito custo do metro e meio. Apesar de pouco dotada pela natureza para ele, esse é meu esporte não praticado favorito e lamento as partidas que não joguei.

Um time de vôlei é como um malabarista de vários corpos, as asas da bola são os braços que chegam em auxílio uns dos outros. O ponto é fruto da precisão do olho do gavião caçador, desce fulminante sem tempo de fuga para a vítima. Só que o voo dessa ave é mantido por esses muitos braços que funcionam a um só gesto.

Apaixonados pelo futebol poderiam me dizer que um gol funciona porque foi armado por muitos toques, vem de várias pernas os passos que o levaram lá, o que é verdade. Mas o choque dos adversários no mesmo campo, a marcação, evocam mais a guerra do que o equilíbrio coletivo da bola aérea do vôlei.

Sequer pratico a modalidade esportiva de poltrona, em tempo de Olimpíada incomoda semelhante alienação, entristeço com as opções que não fiz. Em verdade, as que fiz, pois tomei a inépcia para os esportes como estilo, fiz dele um tipo, louvei-lhe a personalidade. Convém lembrar: inabilidade não é destino. Sempre é possível praticar em casa, sovar a ponta dos dedos até que aprendam a dizer à bola o que fazer.

O fracasso às vezes é cultivado, vira parte preciosa da nossa identidade, também exige treino e dedicação. Não nego que dons existem, é bom para o esporte ser alto, forte, ágil, ter olhos rápidos. Porém, o corpo humano é muito plástico. Não há milagres, mas a imagem corporal tende a traduzir um roteiro inconsciente que traçamos para nossa vida.

Fiquei com pena de não ter aprendido o suficiente para brincar, participar do jogo sem dar tanto prejuízo à equipe. Por enquanto, só me resta agradecer às atletas olímpicas pelo resgate da adrenalina da beira do campo, torcendo pelas amigas. Torcer devia ser também modalidade olímpica, pois vale ouro.

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