19
de agosto de 2012 | N° 17166
VERISSIMO
Ora bolas
Antigamente
as bolas tinham a cor do couro com que eram feitas. Bolas pintadas de branco só
no vôlei ou em jogos de futebol noturnos. Usavam uma bola por jogo de futebol
oficial, de campeonato. O que me fazia sonhar com montes de bola usadas uma só vez
estocadas em algum lugar, uma visão do paraíso. A bola única só podia ser
substituída, com autorização do juiz, em caso de perda de esfericidade, que era
o nome científico de murchamento.
Quando
a bola espirrava para fora do campo, era devolvida pelo público para que o jogo
continuasse. Talvez nada na nossa história recente tenha a importância simbólica
deste fato: no tempo da Número 5 cor de couro, a torcida devolvia a bola. Se a
bola demorasse a voltar para o campo, havia manifestações de impaciência do resto
da torcida e quem retinha a bola era hostilizado.
Não
se sabe se a torcida passou a ficar com a bola quando começaram a usar várias
por partida ou se foi algo no nosso caráter que mudou. Há quem atribua a uma
reversão dos polos magnéticos da Terra, lá pelos anos 1940 e 1950, à deterioração
do caráter do brasileiro. Não sei, mas uma das suas primeiras manifestações foi
não devolverem mais a bola.
A
bola era branca em jogo noturno porque ajudava a visibilidade, com a iluminação
artificial. Depois se deram conta de que o branco também favoreceria a
visibilidade de dia, pois seu contraste com o verde do gramado era maior do que
o do marrom. Agora as bolas já não são mais brancas. Tem tantos desenhos e
grafismos que mal se vê o branco.
Algumas
bolas novas são marrons. Mas não o marrom das antigas bolas de couro. Um
amarelo cocô-de-criança. Os goleiros estão se queixando de que ela é mais difícil
de pegar, mas talvez estejam só com nojo. E o contraste com o verde
decididamente piorou.
Teoria:
pelo menos no Brasil, o futebol foi ficando mais feio à medida que a bola
ficava mais bonita. Hoje, quem mais brilha nos gramados é a bola, e o jogador
brasileiro está com ciúmes, o que explicaria a forma como a maltrata. Seria o
caso de voltarmos ao branco básico ou então ao ainda mais básico, o marrom/couro.
Ou então – por que não? – à bola com tento e cordeamento, para o futebol
reaparecer. Ou então eu é que fiquei tão inconformado com a nossa derrota para
o México nas Olimpíadas que estou delirando.
Marisa
Monte cantando Villa Lobos, Sorriso, o Gari, sambando e, no fim, o Pelé aparecendo
para ser ovacionado. Estava bem representado o Brasil que as pessoas esperam
ver em 2016 no encerramento das Olimpíadas de 2012? Levando-se em conta que o
tempo para sua apresentação era escasso, o resumo foi bem escolhido.
Já o
resto da festa de encerramento foi ainda mais maluca do que a festa de inauguração,
com os ingleses recorrendo a todos os clichês conhecidos a seu próprio respeito
e ainda ressuscitando o John Lennon, o Fred Mercury, o Churchill e as Spice
Girls.
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