28
de agosto de 2012 | N° 17175
DAVID
COIMBRA
De onde vem a força dos exércitos
A
palavra “exército” vem de “exercício”. Por causa do exército romano, que o que
mais fazia não era lutar, era se exercitar para a luta. O legionário passava o
dia treinando, repetindo movimentos sem cessar. Durante esses ensaios,
acontecia tudo o que aconteceria numa batalha de verdade, só que sem sangue e
morte, o que, convenhamos, não é desprezível para quem está ensaiando. Outra
diferença era que o material carregado pelos soldados (suas armas e suas
armaduras) era duas vezes mais pesado do que o que eles empregariam em combate.
Foi assim, com trabalho duro e diário, mais do que com ferocidade e inspiração,
que os romanos dominaram o mundo antigo.
É assim
que o Grêmio de Luxemburgo está funcionando.
No
Gre-Nal isso ficou nítido, principalmente nos momentos em que o Inter retomava
a bola. O lance ocorria, digamos, no lado esquerdo do campo. E lá do outro
lado, no direito, via-se os jogadores do Grêmio que não haviam participado
daquela pequena escaramuça da partida correndo em direção ao campo de defesa. Todos
eles, desde os atacantes Kléber e Moreno até o menos ativo Marquinhos, todos
voltavam para aquele lugar denominado “atrás da linha da bola” a fim de fechar
espaços na frente da área.
E
então, no momento em que o Inter chegava às imediações da meia-lua, deparava-se
com uma cortina de jogadores de azul. Não existiam frestas por onde entrar na área,
onde as coisas realmente acontecem. Aí os laterais ou os meias do Inter
simplificavam a jogada, atiravam a bola por cima, e lá, na marca do pênalti, ou
Grohe a afastava com um soco, ou Gilberto Silva dava-lhe uma testada para a
intermediária.
Esse
é o tipo de comportamento que constrói um time vencedor. Mas não é algo que se
forje de um dia para o outro. Não. É fruto de treino, de preparo diário. Os
jogadores do Grêmio SABIAM o que tinham de fazer em campo, porque já haviam
feito antes. E foi por isso que o Grêmio venceu o clássico. Não foi por ter
jogado bem, porque o time não jogou bem. Foi porque o time se comportou como
uma equipe, e uma equipe é coesa, é concentrada, é, sobretudo, consciente. Porque
já fez antes. E sabe que vai dar certo.
A
cavalaria invencível
Os
romanos, com sua disciplina, foram submetendo os povos da Europa, e o fizeram até
a Britânia. Depois da Ilha, não havia muito mais a conquistar. No outro lado, a
leste, eles foram submetendo os asiáticos, e o fizeram até esbarrar nos partos.
Então
pararam.
Os
romanos simplesmente não conseguiam bater os partos. É que esses povos ferozes
tinham uma habilidade guerreira única e invencível. Eles faziam a famosa “carga
parta”. Consistia no seguinte: os guerreiros partos avançavam sobre o inimigo
montados em cavalos velozes e fortes.
Quando
chegavam a determinado ponto perto o bastante para o alcance de suas flechas,
mas longe o bastante do embate pessoal, eles retesavam seus arcos e disparavam
do alto das selas. As flechas zuniam na direção dos alvos, ao mesmo tempo em
que os partos davam meia-volta nos cavalos, faziam um U e retornavam para o
ponto de partida. Assim, eles fustigavam o inimigo em segurança. Na hora do
combate corpo a corpo, os partos estavam inteiros, e os inimigos assolados.
O
grande general Crasso, que havia batido o exército de escravos de Espártaco,
comandou uma temerária incursão contra os partos. Foi derrotado e, o que é ainda
mais desagradável, morto. Cometeu um terrível erro, donde se originou a expressão
“erro crasso”.
Quer
dizer: às vezes, nem a disciplina e o treino são suficientes para vencer um
inimigo poderoso e igualmente disciplinado. Portanto, pode-se dizer que o Grêmio
de Luxemburgo terá boa sorte no Brasileirão, mas não se pode dizer que terá a
melhor das sortes.
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