SAMY
DANA - OCTAVIO AUGUSTO DE BARROS
ESPECIAL
PARA A FOLHA
Autoafirmação social leva à busca
por produtos culturais
Eventos
culturais têm ganhado destaque no cotidiano do paulistano, e esse fenômeno é evidenciado
pelo crescimento acentuado do setor.
Ingressos
esgotados para shows e espetáculos, filas enormes em exposições e cursos recém-criados
de filosofia, arte e afins estão cada vez mais presentes na cidade.
Além
da preocupação com o alcance de uma formação mais ampla, esse aumento pode ser
justificado pelo favorecimento da imagem que a cultura representa.
A
aprovação social passa a depender da demonstração clara de conhecimento,
criando um receio comum de exclusão por falta de erudição, e abrindo espaço
para que novos produtos, ainda que de critérios duvidosos, sejam oferecidos em
larga escala.
A
cultura vem se transformando, guardadas as devidas proporções, em um objeto de
aumento da visibilidade frente à sociedade.
Nos
principais polos culturais, como a região da avenida Paulista e o Baixo
Augusta, é comum ver tribos que prezam pelo destaque a partir de visuais
diferenciados, mas que na realidade carregam traços e atitudes muito
semelhantes.
A
preocupação é tão grande com a imagem "cult" a ser sinalizada que,
muitas vezes, a ideologia é deixada em segundo plano.
Uma
das possíveis causas de tal inversão é a dificuldade de avaliar a qualidade
envolvida no produto cultural: altos preços ainda são confundidos com excelência.
Como
exemplo, pode-se citar a proliferação de famosos cursos dispendiosos e acessíveis
apenas a classes mais altas que são oferecidos -e muito bem atendidos- com a
sedutora proposta de ampliação da formação cultural, e que, na realidade, não
possuem o aprofundamento que o objeto lecionado requer.
Analogamente,
superproduções cinematográficas, shows e grandes espetáculos, por vezes
considerados essenciais aos entusiastas e estudiosos, justificam-se mais pela
pirotecnia do que pelo conteúdo transmitido.
A
autoafirmação social tem levado à intensificação da busca por produtos
culturais. Se por um lado isso fomenta o setor e favorece o acesso a mais
eventos, por outro, sugere a revisão do conceito de valorização cultural como
uma necessidade iminente.
SAMY
DANA é PhD em business, professor da FGV - OCTAVIO AUGUSTO DE BARROS é pesquisador,
assistente do Núcleo de Cultura e Criatividade da FGV
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