sexta-feira, 31 de agosto de 2012


Jaime Cimenti

Perda, recuperação e bom-humor

O começo do adeus (Novo Conceito, 208 páginas, R$ 29,90, tradução de Ana Paula Corradini) é o 19º romance da escritora norte-americana Anne Tyler, nascida em Minneapolis, Minnesota, em 1941. Formada na Duke University aos 19 anos, seguiu estudando na Columbia University. O 11º romance de Anne, Breathing Lessons, recebeu o prestigiado Pulitzer em 1988. Anne faz parte da Academia Americana de Artes e Letras. Atualmente, reside em Baltimore, Maryland.

O começo do adeus trata da morte de Dorothy, esposa do jornalista e editor Aaron, homem de meia-idade que, desolado, melhora gradualmente da perda com as aparições frequentes da falecida em casa, na estrada e no mercado. Só ele a vê.

Aaron é editor de livros que se destinam a ser guias para iniciantes nos caminhos da vida. Desde a infância, ele tem deficiências no braço e na perna direta, e passou todo o tempo tentando livrar-se de sua irmã, que sempre adorou mandar nele, e da mãe dominadora.

Aaron sentiu-se livre quando conheceu Dorothy, médica de personalidade forte, pouco vaidosa e que tinha por hábito usar calças retas e sapatos baixos, com aspecto de ortopédicos. Ela tinha quase dez anos a mais que Aaron. A mãe e a irmã de Aaron, desde o início, desaprovaram o relacionamento que, mesmo assim, prosseguiu. Num dia, depois de uma discussão boba de casal - sobre biscoitos -, cada um ficou num cômodo da casa.

Dorothy ficou no solário. Uma árvore que já estava condenada há algum tempo e que deveria ter sido cortada caiu sobre a casa, vitimando Dorothy. Por causa de suas limitações físicas, Aaron não conseguiu salvar Dorothy, e os bombeiros não permitiram que ele entrasse na casa para resgatá-la.

Nem no hospital conseguiu despedir-se da esposa. Mesmo sendo editor de livros de autoajuda e acostumado a dar conselhos aos outros, Aaron não sabia como lidar com a perda, a mesmice da depressão e o luto pela perda da companheira. Não queria ser paparicado ou poupado.

Tentando fingir que nada havia acontecido, acabou não vivenciando a dor. Não sabia como agir, como sentir, até que um dia, em um encontro inusitado na rua, sentiu a presença de Dorothy, com suas calças retas, seus sapatos, seus olhos grandes e seus cabelos negros. A partir de então, o viúvo ficou dependente da presença da falecida para seguir adiante. Mas como prosseguir apoiado em uma ilusão? Passou a perguntar-se.  Apesar do tema, o texto de Anne é bem-humorado e repleto de ironias sobre as surpresas da vida.

O romance mostra que cada um de nós encontra sua própria saída para superar a dor, as fraquezas e tocar o barco em frente.

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