Jaime
Cimenti
Perda, recuperação e bom-humor
O
começo do adeus (Novo Conceito, 208 páginas, R$ 29,90, tradução de Ana Paula
Corradini) é o 19º romance da escritora norte-americana Anne Tyler, nascida em
Minneapolis, Minnesota, em 1941. Formada na Duke University aos 19 anos, seguiu
estudando na Columbia University. O 11º romance de Anne, Breathing Lessons,
recebeu o prestigiado Pulitzer em 1988. Anne faz parte da Academia Americana de
Artes e Letras. Atualmente, reside em Baltimore, Maryland.
O
começo do adeus trata da morte de Dorothy, esposa do jornalista e editor Aaron,
homem de meia-idade que, desolado, melhora gradualmente da perda com as aparições
frequentes da falecida em casa, na estrada e no mercado. Só ele a vê.
Aaron
é editor de livros que se destinam a ser guias para iniciantes nos caminhos da
vida. Desde a infância, ele tem deficiências no braço e na perna direta, e
passou todo o tempo tentando livrar-se de sua irmã, que sempre adorou mandar
nele, e da mãe dominadora.
Aaron
sentiu-se livre quando conheceu Dorothy, médica de personalidade forte, pouco
vaidosa e que tinha por hábito usar calças retas e sapatos baixos, com aspecto
de ortopédicos. Ela tinha quase dez anos a mais que Aaron. A mãe e a irmã de
Aaron, desde o início, desaprovaram o relacionamento que, mesmo assim,
prosseguiu. Num dia, depois de uma discussão boba de casal - sobre biscoitos -,
cada um ficou num cômodo da casa.
Dorothy
ficou no solário. Uma árvore que já estava condenada há algum tempo e que
deveria ter sido cortada caiu sobre a casa, vitimando Dorothy. Por causa de
suas limitações físicas, Aaron não conseguiu salvar Dorothy, e os bombeiros não
permitiram que ele entrasse na casa para resgatá-la.
Nem
no hospital conseguiu despedir-se da esposa. Mesmo sendo editor de livros de
autoajuda e acostumado a dar conselhos aos outros, Aaron não sabia como lidar
com a perda, a mesmice da depressão e o luto pela perda da companheira. Não
queria ser paparicado ou poupado.
Tentando
fingir que nada havia acontecido, acabou não vivenciando a dor. Não sabia como
agir, como sentir, até que um dia, em um encontro inusitado na rua, sentiu a
presença de Dorothy, com suas calças retas, seus sapatos, seus olhos grandes e
seus cabelos negros. A partir de então, o viúvo ficou dependente da presença da
falecida para seguir adiante. Mas como prosseguir apoiado em uma ilusão? Passou
a perguntar-se. Apesar do tema, o texto
de Anne é bem-humorado e repleto de ironias sobre as surpresas da vida.
O
romance mostra que cada um de nós encontra sua própria saída para superar a
dor, as fraquezas e tocar o barco em frente.
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