02
de agosto de 2012 | N° 17149
ARTIGOS
- Alceu Medeiros*
Quantos presos queremos ter?
Nenhum
O
doutor Pio Giovani Dresch, presidente da Ajuris, propõe para debate o tema “quantos
presos queremos ter”, em seu brilhante artigo publicado ontem em ZH, aliás, matéria
de discussão do seminário “O Presídio Central e a realidade prisional: quantos
presos queremos ter?”, no qual se discute com as autoridades, com os estudiosos
da matéria e com os próprios presos as soluções para esse grave problema.
O
problema em discussão é apenas um, ou seja, a superlotação dos presídios em
todo o Estado e a precariedade do Presídio Central.
Não é
só em nosso Estado que existe esse problema. É em todo o Brasil. Ninguém de sã consciência
pode achar boa a superlotação de presos em qualquer presídio, tampouco em
qualquer outro estabelecimento, como acontece atualmente em hospitais do Estado
e no país.
Nisso
estamos de acordo. Divirjo apenas do insigne magistrado sobre a quantidade de
presos que queremos ter confinados atrás das grades. Segundo ele, quanto mais
presos confinados, haverá menos dinheiro para a educação, saúde e até para a
segurança.
Ora,
uma coisa não elimina outra. Para o meu gosto, eu não quero nenhuma pessoa
presa. Eu quero, sim, viver em um país que me assegure o direito de viver livre
e não atrás das grades como vive a maioria da população brasileira para se
proteger dos bandidos. Quero, igualmente, ter o direito à saúde, educação e
segurança, não importando o seu custo.
Qual
é o valor da vida? A vida não tem preço! Se outros países ditos de Primeiro
Mundo conseguiram tudo isso, principalmente segurança, por que nós brasileiros
não podemos ter saúde, educação e segurança?
O
povo abriu mão da vingança privada e da justiça pelas mãos próprias em favor do
Estado, de tal modo, que o que deve prevalecer é o Estado democrático de
direito, garantidor dos direitos humanos, e a legitimidade do Estado, o qual
exerce o direito de punir, ou seja, aplicar as penas, em nome da sociedade, a
qual se constituiu com base em um contrato social.
Porém,
abrir mão da vingança privada e do justiçamento pelas próprias mãos não
significa abrir mão em favor da impunidade, de leis mais brandas visando
desafogar o sistema carcerário.
Precisamos
discutir o sistema penal que queremos e as soluções para esse grave problema
carcerário. Porém, não é com os presos que vamos discutir isso, tampouco no
auditório do Presídio Central, e sim com a sociedade, pois todo o poder emana
do povo (art. 1º, da CF/88), ouvindo o povo (sempre) em primeiro lugar.
Ninguém
aqui vive em Sucupira, onde ninguém matava e ninguém morria – na novela de Dias
Gomes, O Bem-Amado. Aqui se mata (e como) e ninguém vai preso.
A
população não suporta mais é ver bandidos presos de manhã e soltos à tarde. Não
é culpa da Justiça, todos nós sabemos, pois o Estado brasileiro optou por leis
penais mais brandas em nome do desafogo do sistema carcerário, numa verdadeira
inversão de valores: o cidadão se prende em casa e o bandido se livra solto por
aí, livre que nem um passarinho.
*ADVOGADO
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