13
de agosto de 2012 | N° 17160
L. F.
VERISSIMO
Rapinagem
Amelhor
observação que li sobre a crise das dívidas na Europa foi a de um leitor do “London
Review of Books” que, numa carta à publicação, comenta as queixas dos alemães
inconformados com a obrigação de mandar seus euros saudáveis para sustentar a
combalida economia grega.
O
leitor estranha que ninguém se lembre de perguntar sobre as grandes reservas de
ouro que os alemães levaram da Grécia durante a Segunda Guerra Mundial – e
nunca devolveram. Só os hipotéticos juros devidos sobre o valor do ouro roubado
dariam para resolver, ou pelo menos atenuar, a crise grega.
O
autor da carta poderia estranhar também o silêncio que envolve um exemplo mais
antigo de pilhagem, a dos tesouros artísticos da Grécia Antiga, levados na
marra e de graça para os grandes museus da Alemanha. Seu valor garantiria com
sobras a ajuda aos gregos que os alemães estão dando com cara feia.
É claro
que se, num acesso de remorso, os alemães decidissem devolver ou pagar o que
levaram da Grécia, estaria estabelecido um precedente interessante: a América
poderia muito bem reivindicar algum tipo de retribuição da Europa pelo ouro e
pela prata que levaram daqui sem gastar nada e sem pedir licença, durante anos
de pilhagem.
Que
não deixaram nada no seu rastro, salvo plutocracias que continuaram a pilhagem
e sociedades resignadas à espoliação. Alguém deveria fazer um cálculo de quanto
a metrópole deve às colônias pelo que não pagou de direitos de mineração no
tempo da rapinagem desenfreada. Só por farra.
Quanto
às reservas de ouro levadas da Grécia pela Alemanha nazista, a observação do
leitor do “London Review” mostra como a História não é linear, é um
encadeamento. A atual crise do euro e da comunidade europeia é a crise de um
sonho de unidade que asseguraria a paz e evitaria a repetição de tragédias como
as das duas grandes guerras.
Sua
meta era uma igualdade econômica, que dependia de um equilíbrio de forças, que
dependia da Alemanha como potência econômica ser diferente da Alemanha que
invadiu e saqueou meia Europa. Os alemães atuais não têm culpa pelos desmandos
dos nazistas, mas não podem renunciar à força desestabilizadora que têm, que
continuam a ter. Como a Grécia não pode evitar de ter saudade do seu ouro, do
qual nunca mais ouviu falar.
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