quinta-feira, 30 de agosto de 2012



30 de agosto de 2012 | N° 17177
PAULO SANT’ANA

Respeito aos comensais

Eu tenho ideia de abrir um restaurante em Porto Alegre com o nome de Comida Caseira.

Como o nome diz, só me especializarei em comidas feitas pela mãe ou avó da gente: tudo que for tipo de comida com abóbora, inclusive quibebe, guisadinhos com farofa e ovos fritos por cima do arroz, aipim, polenta frita ou mole, feijão mexido, muitas variedades de chuchu, mormente à doré, lentilha, ovos-moles, fritadas de todos os tipos, vários tipos de batatas fritas, da palha até a de grandes pedaços, ou seja, comida pra ninguém botar defeito, porque comeu na infância.

Faz falta um restaurante desse tipo em Porto Alegre, não adianta mandarem me dizer que ali ou acolá tem esse tipo de restaurante. Não tem.

Ou tem restaurante na Capital que faz mogango com leite? Ou tem restaurante aqui que serve canjica com leite? Não tem.

Falta restaurante que colecione pratos que eram servidos por nossas mães quando éramos crianças. Eu já disse e repito que as melhores comidas para todos nós são exatamente aquelas que nos acostumamos a comer quando fomos crianças.

Faltam restaurantes em Porto Alegre que sirvam todos os tipos de merengues imagináveis, todos os tipos de ovos-moles possíveis, todos os tipos excelentes de arroz de leite. Faltam.

Têm que fazer arroz de carreteiro molhadinho, arroz com galinha molhadinho, outro restaurante que faz falta em Porto Alegre é um que faça todo tipo de risoto de carne de bípedes e quadrúpedes. E todo tipo de risoto de vegetais, desde as algas, passando por champignons, até todas as verduras e frutas que podem ser salgadas.

Por exemplo, não existe nada mais delicioso do que couve-flor empanada, enrolada no ovo. E em raríssimos restaurantes se come isso, como também não há em qualquer lugar o pimentão e a cebola, cozidos, servidos sozinhos ou em meio a espaguete ou talharim.

Dessa forma também, depois que o Giovani da Rua Miguel Tostes morreu, não apareceu ninguém mais fazendo a lasanha com molho de tomate ou molho branco que ele fazia.

E não apareceu nenhum restaurante em Porto Alegre, com certeza nenhum, que sirva os camarões boiando em molho de tomate com bastante alho.

Nenhum faz isso aqui. A culinária de Porto Alegre, desculpem que eu fale mal por um instante de nossa cidade, não é das melhores. E era para ser. Porque o nosso mercado de legumes, frutas, frios, carnes etc. é muito rico.

Os donos de restaurante vão ter de novamente pôr mãos à obra e inovar. Há muita falta de imaginação no comércio culinário da cidade.

Nós chegamos ao ponto, aqui no Sul, como eu já disse aqui tantas vezes, que em Caxias do Sul, a pátria fundadora e criadora do galeto, o que servem lá na maioria das galeterias é frango grande, cobra criada, enquanto o verdadeiro galeto é o do tamanho de passarinho.

Respeitem pelo menos a nós, os raros conhecedores de comida, não como cozinheiros, mas como notáveis consumidores.

Respeito!

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