Arnaldo Jabor
14 de agosto de 2012 | 3h 10
Eu sou o pai do islamismo (*)
"Meu nome é Sayyd Qtub. Nasci no vilarejo de Musha no Egito em 1906 e morri em 1966, no Cairo. Fui poeta, ensaísta e ativista político. Aos 10 anos já sabia o Alcorão de cor e salteado. Meus mestres admiravam a força com que eu batia a cabeça na pedra enquanto repetia os versículos do livro de meu profeta Maomé. Eu queria ser como ele, não um profeta - livre-me Alá da vaidade -, mas eu queria influir no espírito degenerado de meus conterrâneos e do mundo.
Vocês podem olhar as fotos que restam de mim no vergonhoso YouTube, registro da desagregação ocidental. Nos meus retratos meus olhos estão sem brilho, onde alguns veem a ferocidade calma dos tigres. Em meus olhos está a vingança contra os cães do Ocidente. A imagem de Maomé está engastada dentro de meu peito como um tumor benigno e cada gesto meu será para arrasar a peste dos infiéis da Europa e dos Estados Unidos. Eles são culpados pela miséria de nossos povos no deserto do nada. Nossos corpos se despedaçam para despedaçá-los também.
Passei minha infância no frescor sombrio das mesquitas. Deitava-me no chão frio e sentia a respiração cálida de Alá sobre meu rosto. Meus colegas da 'madrassa' (escola) riam de mim. As meninas me chamavam de mudo, de boca de camelo, mas meu imã me dizia que eu seria um fundador, um portador da palavra de Alá.
Na adolescência fui estudar no Cairo e fiquei chocado com a atitude desonrosa das mulheres da capital, cadelas em sua maioria. Cada vez que uma mulher me atraía, um empurrão invisível me afastava delas - uma mão divina me protegia de um mal futuro.
Até que um dia vi uma moça que parecia pura. Vi seus olhos, negros, acima do véu, me olhando fixamente, como se rezasse. Conversamos muito na porta da mesquita sobre a vida e os 'suratas' do Alcorão. Não nos tocávamos, e ela disse uma poesia: 'Quando o amor o chamar, /siga-o /embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados'. Em seguida, ela arrancou o seu 'niqab' do rosto, me beijou violentamente chorando e me pediu um 'batkish' (gorjeta). Fugi dali, arrastando minha alma.
Depois daquilo, vi que tinha de me dedicar somente à oração e ao sacrifício por Alá. Ofereci-lhe minha virgindade para sempre. Até que um dia, os judeus chegaram à Palestina, em 1948, e vi que era a hora da partida.
Meu corpo ardia no deserto de desejo e de ódio aos judeus, mas eu não cedia às tentações e continuava puro, casto e nunca me toquei; deixava a água jorrar de mim durante o sono, quando sonhava com o Paraíso e as 72 'huris' de olhos escuros, como pérolas bem guardadas para meu pênis que nunca amoleceria com minhas companheiras amorosas, como reza o Alcorão, na Surata 56 vers.12-40.
Fugi para os Estados Unidos em 1949 - queria ver a besta por dentro.
Meus sofrimentos aumentaram já no navio para a terra dos infiéis. No meio do oceano, uma mulher bêbada e seminua invadiu minha cabine para me possuir. Percebi que ela tinha garras em vez de mãos e de sua boca saía uma língua bífida como as najas de minha terra. Empurrei-a para fora e ela sumiu com um grito. Fui diretamente para Washington, onde comecei a cuspir sangue logo que cheguei.
Fui hospitalizado com um problema pulmonar e infelizmente tive de enfrentar um novo perigo: as enfermeiras do hospital me assediaram (como dizem hoje). Mas, eu resisti a seus lábios sedentos, seios fartos, pernas macias, olhar sedutor e risada provocante. Eu resisti porque sabia que dentro delas moravam 'djins', demônios para me destruir.
Alá me curou e fugi mais uma vez para a cidadezinha de Greely, no Colorado. Estava atormentado pela solidão e me filiei a um clube organizado pela igreja da cidade. Achei que seria um pouco feliz, mesmo no ventre da baleia. Fui a uma festa deles. Era como um templo de luxúria também.
Lá tocava sem parar um tipo de música vertiginosa e ateia inventada pelos negros africanos embalados por seus instintos primitivos que chamavam de jazz e eu via aquela ciranda de coxas e quadris, eu via que tudo levava os seres para o prazer da carne. Foi aí que uma mulher (mais uma 'harpia') me segredou palavras doces no ouvido, me beijou a orelha por trás. Confesso, em nome de Alá, que tive uma febre súbita e senti entre minhas pernas um enrijecimento. Trêmulo, fui tomado por um grande furor assassino.
Eu queria matar, matar aquelas pessoas que se agarravam numa dança negra e impura. Corri para o jardim e me joguei na terra, pedindo perdão a Deus por minha fraqueza.
E foi ali que tive a revelação. Um pequeno arbusto incandesceu-se como sarças de fogo. E eu ouvi dentro de mim, como uma boca dentro de meu peito que falava: 'Volte e salve seus irmãos e fuja dos jahiliyya (os bárbaros) que querem nos destruir. Os americanos são animais arrogantes, charmutas que não merecem viver. Volte!'
Voltei ao Egito, deixei crescer um bigode como o do Hitler, o matador de judeus, e parti para a vingança. Essa foi a revelação divina que virou meu lema e da Al-Qaeda que eu fiz nascer: morte a todos que não sejam submissos a Alá. Radicalizei a Irmandade Muçulmana que se deixava levar por pensamentos moderados, inventados pela depravada 'democracia', esse bacanal de indivíduos prostituídos.
Eu trouxe para o Oriente a retomada do 'wahabismo', com a lei da 'sharia', do fim do álcool, da música, das drogas, da dança, dos cabelos longos para homens e da forma de vestir das mulheres, essas perigosas traidoras inferiores em cujo ventre o Demônio costuma se abrigar.
Meu livro é considerado o Mein Kampf do islamismo, que o saudoso Bin Laden lia sempre. Em 1966, fui enforcado pelo charmuta Anwar Sadat, que, mais tarde, os irmãos de Alá metralharam em nome de Deus.
Mas, continuei vivo nas ações heroicas dos mártires do Islã. Ninguém me viu, mas eu estava lá, no 11 de Setembro. Eu sou o pai do islamismo. Minha alma celebrava a vitória entre os escombros, entre os corpos dos cães infiéis. Eu dançava e cantava de felicidade: 'Alah U Aqbar!'"
(*) Tudo isso é pura verdade. A Al-Qaeda nasceu também de um grande trauma sexual.
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