ELIANE
CANTANHÊDE
O pior dos mundos
BRASÍLIA
- O julgamento do mensalão recomeça amanhã com uma excrescência: a réplica do
relator Joaquim Barbosa e a tréplica do revisor Ricardo Lewandowski. Onde já se
viu isso? Esse negócio de réplica e tréplica é coisa de debate de candidato na
TV. Ministros do Supremo Tribunal Federal argumentam e votam. Condenam ou
absolvem.
Muita
coisa nesse julgamento, aliás, anda curiosa. Na estreia, Lewandowski
surpreendeu tirando do bolso um voto imenso sobre matéria já vencida, o
desmembramento da ação. No primeiro voto, surpreendeu de novo ao inverter a
ordem estabelecida pelo relator Joaquim.
Começou
pela condenação de Henrique Pizzolato, ex-diretor do BB, amortecendo assim a
absolvição, no dia seguinte, de João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara,
agora candidato do PT à Prefeitura de Osasco (SP).
Relevou
as explicações capengas de João Paulo para os R$ 50 mil que recebeu de Marcos
Valério (lembra da "conta da Net"?), bancando candidamente que foi
para "pagar pesquisa". E desvinculou totalmente da licitação milionária
que Valério ganhou em seguida da Câmara presidida por Cunha. Uma coisa foi uma
coisa e outra coisa foi outra coisa?
Por
menos que se diga isso com todas as letras, não há mais dúvidas entre
jornalistas, advogados, ministros (e Lula?): o relator Joaquim tende a condenar
todo mundo, e o revisor Lewandowski, a condenar a periferia para absolver os
políticos do PT.
Está,
portanto, consolidada a divisão do Supremo entre dois times: o da condenação e
o da absolvição. E, para apressar o ritmo e acabar com a tortura ainda neste
ano, Joaquim serve de "escada" para quem quer condenar e Lewandowski,
para quem quer absolver. Basta aos demais ministros declarar: "Voto com o
relator" ou "voto com o revisor".
Com
a saída de Cezar Peluso, já, já, o risco de empate aumenta perigosamente. O
pior dos mundos.
elianec@uol.com.br
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