19
de agosto de 2012 | N° 17166O
CÓDIGO
DAVID | DAVID COIMBRA
Solidão é lava
Todos
os que viveram a Olimpíada em Londres voltaram encantados com a cidade. Não vi
ninguém falar mal. Quero finalizar as histórias londrinas com algumas informações
que dizem bem o que é aquele lugar.
Um
dado importante: Londres é uma cidade de solitários. Um terço dos londrinos
vive só, e 50% dos que se casam acabam se separando. Donde, o sucesso dos pubs.
Como existem bares naquelas ruas planas. Trata-se de um item de primeira
necessidade. As pessoas têm de se encontrar em algum lugar. Os bares e as pints
atenuam a solidão.
Para
estender um pouco mais o gostinho de Londres, aí estão as top models britânicas
Lily Cole (E), Kate Moss e Naomi Campbell (C) flutuando em um desfile no Estádio
Olímpico durante a cerimônia de encerramento da Olimpíada
Para
quem gosta, história de terror
Já viajei
carregando 20 livros. Ia ficar muito tempo fora, três meses no estrangeiro. Foi
uma demasia. A mala tornou-se uma mala mesmo. Depois disso, me contive: dava
preferência aos pockets, e levava menos volumes. Se me faltasse livro,
comprava, ora.
Nesta
viagem a Londres, fui controlado em excesso, se é que isso é possível. Levei três
livros. Então, tive de encarar o terceiro, O Historiador, da americana
Elizabeth Kostova. Tinham falado bem deste livro. Enganaram-me. Como não quero
que você seja enganado também, escrevo sobre.
Se
você aprecia histórias de terror, pode ler. Trata-se de uma historinha de
terror. Mistura Vlad, o Empalador, personagem que realmente existiu na Baixa
Idade Média, com Drácula, personagem criado pelo irlandês Bram Stoker. Uma
bobice. O livro até poderia ser melhor, se a autora não apelasse para a enrolação
a fim de criar suspense. Ficou tolo. Mas tem quem goste. Se for o seu caso, vá em
frente. Se não for, você já sabe o que não ler.
O
canalha
Ester
só gostava dos canalhas. Certo dia percebeu isso e, primeiro, decepcionou-se
consigo mesma, depois se conformou. Era uma espécie de distorção de caráter. Um
vício. Até que Carlão apareceu. Bonitão como um Pitt, cheio de ginga como um
Portaluppi, sorridente como um Eike, fazia boa figura com as mulheres.
A
ala feminina da turma o recebeu com entusiasmo, a masculina com reticências. Num
fim de semana especialmente gelado, foram ao Vale dos Vinhedos, e Carlão
impressionou a todas com seus conhecimentos sobre vinhos. Ester se encantou. Naquela
noite, se repoltrearam no pecado. No dia seguinte, começaram a namorar.
Esvaiu-se
o inverno, floriu a primavera, o verão rugiu, as folhas amarelas desabaram no
outono, outro inverno começou e eles continuavam juntos. Porém, Ester
desconfiava de que havia algo errado. Carlão era muito atencioso, muito assíduo,
muito romântico.
Um
dia, um dos casais da turma resolveu oficializar sua relação com pompa e cerimônia.
As mulheres organizaram um chá de panela; os homens, uma despedida de solteiro.
Ester ficou inquieta ao saber da despedida de solteiro, mas preferiu agir em
silêncio. Traçou um plano.
Era
solerte, era vil, mas ela tinha de fazê-lo. Seu futuro dependia disso. Afinal,
estava planejando passar o resto da vida com Carlão, ter filhos, toda aquela
coisa. Então, Ester fez. Sim, ela fez: contratou um detetive particular. Em
troca de um punhado de reais, o homem se comprometeu a seguir Carlão durante
toda a noite da despedida de solteiro. Ester queria saber tudo, os detalhes
mais escabrosos, TUDO.
De
fato, foi uma despedida de solteiro forte. Os homens se encontraram para o
happy hour e só voltaram para casa ao amanhecer. O próprio detetive teve de
dormir toda a manhã antes de se reunir com Ester. No fim da tarde, o homem foi
a sua casa. Ester torcia as mãos em expectativa. Ele aprontara um relatório
minucioso, com fotos e gravações. Apresentou-o a Ester e arrematou:
– Parabéns.
Ele não fez nada. Ester abriu a boca: – Como assim, “nada”?
– Nada,
nada. Todos os outros pegaram mulheres das casas noturnas, mas ele se conteve. Parecia
até intimidado. Participou do happy hour, comeu o churrasco, passou em um bar e
depois deu uma desculpa e voltou para casa. Eu o segui. Ele foi para casa mesmo.
Voltei para acompanhar a festa achando que ele poderia reaparecer, mas que nada.
Ele rechaçou todas as mulheres que se aproximaram dele. O homem é um santo.
– Um
santo?... Quer dizer que ele não é canalha? – Definitivamente, não.
– Quer
dizer... – Ester levou a mão ao queixo. – Que ele só se faz de canalha? É um
disfarce... Para parecer mais macho, algo assim?
– É claro!
O homem é um santo! Um santo!
Ester
afundou na poltrona. Naquele momento, seu romance acabou. Horas depois,
terminou com Carlão. Ester, realmente, só gostava de canalhas.
As
águas do Tâmisa
As
cidades, em geral, são construídas às margens dos rios. Muito natural. Água. O
ser humano é feito de água, mais do que qualquer outra coisa. Londres cresceu
ao longo do Tâmisa coleante. Ótimo para os londrinos, péssimo para o rio. No século
17, o Tâmisa já estava poluído. No 19, estava morto. Chamavam-no de “O Grande
Fedor”.
Um
dia, as águas podres do rio começaram a se infiltrar nas tábuas dos soalhos das
residências dos ricos, a tudo empestear, a transformar a cidade em uma pocilga.
Londres, então, reagiu. Construiu o primeiro sistema de esgotos do mundo. E
começou a despoluir o rio.
Lembro
de quando tinha 12 anos de idade e o professor de inglês chegou à aula
anunciando que haviam pescado um salmão nas águas do Tâmisa. Era objeto de
comemoração para o teatcher, anglófilo militante que era. Hoje, o Tâmisa é limpo,
está cheio de peixes e orgulha a cidade. A força da natureza é maior, se tiver
ajuda.
Plante
plátanos
Sabe
o que os ingleses fizeram para limpar a poluição do ar?
Plantaram
plátanos.
Há plátanos
por toda a cidade. Por uma razão singela: o plátano “suga” a sujeira do ar e a
expele pela casca. Além disso, a cidade fica bonita, assim, toda arborizada. Muito
engenhosos, os ingleses.
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