JAIRO MARQUES DE SÃO PAULO
Sou
'pai' dos meus pais
São raros os casos em que os filhos homens assumem
integralmente o cuidado dos pais; com o aumento da longevidade no Brasil, a
inversão de papéis, no entanto, será cada vez mais frequente
O engenheiro civil Eduardo Martins Verdade, 57, teve de
deixar mais cedo o trabalho na quinta-feira. Foi levar e acompanhar o pai,
Fernando Martins Verdade, 85, a uma consulta médica.
Com a expectativa de vida dos homens brasileiros batendo na
casa dos 74 anos, está mais comum ver filhos desempenhando um pouco da tarefa
de ser "pai dos pais".
Esses "filhos-pais" não só levam ao médico, como
dão tratos pessoais, pagam as contas, levam para as "baladas" e
convivem no mesmo teto que seus "pais-filhos".
"Depois que me separei, há dois anos, fui morar próximo
dos meus pais, mas não só para poder ajudá-los, como por prazer. Meu pai
precisa de alguns cuidados médicos, está usando sonda urinária", conta.
"Dou meu máximo para retribuir um pouco da atenção que ele me deu ao longo
da vida", diz Eduardo.
Morador do Ipiranga, na zona sul de São Paulo, ele também
ajuda nos cuidados da mãe, Rosa Carmem Cassiano Verdade, 80.
O funcionário público Marcos Aurélio Schiavon, 57, pai de
quatro filhos, auxilia o pai, Arnaldo Luiz Schiavon, 89, a fazer tarefas do dia
a dia.
"Meu pai é totalmente lúcido, forte, mas é dependente
porque quase não enxerga e escuta pouco. Então, qualquer locomoção que ele
precise fazer fora de casa, é preciso ajudá-lo", diz Marcos. "Levo
para o médico, para almoçar fora, para passear, para baladas familiares. Mas
prefiro fazer tudo isso a não ter mais meu pai comigo." Ainda segundo ele,
as dificuldades que o pai tem atualmente acabaram por estreitar mais laços
entre os dois.
"A gente conversa muito. Ele ainda me aconselha, dá
orientações. Nino meu pai igual a ele me ninava quando criança."
UNIVERSO FEMININO
Para Tai Castilho, do Instituto de Terapia Familiar de São
Paulo, são raros os casos em que os filhos homens assumem integralmente as
responsabilidades com os pais.
"Cuidar ainda é muito do universo feminino. Homem gosta
é de ser cuidado. Mas, em geral, as famílias brasileiras ainda estão pouco
preparadas para o fenômeno da longevidade."
Para que dê certo levar um pai doente ou fragilizado para
dentro de casa, diz a terapeuta, é preciso harmonia na família e boa divisão
dos custos gerados pelo idoso.
Faz 12 anos que o gerente de recursos humanos Paulino
Matsuzaki, 59, de Poços de Caldas (MG), levou o pai, que morava no interior de
São Paulo, para morar em sua casa, no interior mineiro.
"Quando minha mãe morreu, meu pai ficou com minha irmã,
mas, pela tradição japonesa, é o homem quem cuida dos pais na velhice. Faço
isso com muito amor. Dou banho nele, que quase não anda mais, todos os dias.
Troco as fraldas geriátricas e dou comida."
Matsuzaki afirma que conta muito, também, com a ajuda da
mulher dele.
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