21
de agosto de 2012 | N° 17168
CLÁUDIO
MORENO
O verdadeiro ouro olímpico
Os
dois espetáculos mais populares na Grécia – o teatro e as olimpíadas – eram,
cada um à sua maneira, momentos feitos sob medida para que o grego observasse a
si mesmo e pudesse, quem sabe, entender os limites da condição humana.
Nas
tragédias, o espectador recebia, por mais variadas que fossem as histórias, a
mesma eterna mensagem: o homem é um quase nada diante das forças que agem sobre
ele. Os jogos, por outro lado, forneciam-lhe a visão de um lugar ideal em que,
ao contrário deste mundo, o mérito e a perseverança eram recompensados com
rigor e com justiça.
Era
só por isso – pela rara e preciosa satisfação de dar o máximo de si e ver
reconhecido o seu esforço pessoal – que os jovens participavam das olimpíadas,
pois, assim como hoje, a premiação era meramente simbólica.
No
começo, era uma simples maçã, fruta dedicada a Apolo; depois passou a uma
singela coroa feita com um ramo verde de oliveira. Heródoto, grande historiador
e viajante incansável, registra o espanto de Xerxes e dos generais persas ao
descobrirem que os atletas gregos não disputavam as provas por riqueza ou por
poder, mas por um mero galho de árvore torcido.
Este
espetáculo perderia todo o seu valor cívico se o público e os concorrentes não
tivessem certeza absoluta da lisura dos resultados. Ésquines, que disputava com
Demóstenes o título de melhor orador de seu tempo, definiu muito bem a importância
deste ponto: “Então você acha, amigo, que alguém iria perder tempo em se
preparar para o pugilismo ou para as outras provas duras da olimpíada se a
coroa fosse atribuída não ao melhor atleta, mas àquele que fez mais intrigas e
conchavos para obtê-la?
Não
mesmo. Mas como os resultados são justos e a recompensa é rara e preciosa, os
jovens vão continuar a submeter-se à mais severa disciplina para enfrentar este
nobre desafio”.
Não
faltaram, é claro, tentativas de burlar o sistema – boxeadores que compraram
seus adversários, cocheiros que sabotaram os carros dos concorrentes –, mas
esses casos isolados eram punidos de uma maneira exemplar: os atletas
desonestos eram multados numa soma considerável, usada para custear as “Zanes”,
estátuas representando a figura de Zeus, que traziam o nome do infrator gravado
em seu pedestal.
Estas
estátuas, todas iguais, formavam uma galeria implacável bem na entrada do estádio,
imortalizando, na pedra e no bronze, o nome dos trapaceiros. Hoje, dois mil e
quinhentos anos depois, não chegamos a esses extremos, mas ainda reside aí o
grande fascínio que exerce sobre todo o planeta o espetáculo das olimpíadas: saber
que, por um breve momento, luminoso e emocionante, as costumeiras leis do vale-tudo,
da fraude e da corrupção ficaram suspensas.
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