30
de agosto de 2012 | N° 17177
L. F.
VERISSIMO
21 anos
Anders
Behring Breivik vai ficar um mínimo de 21 anos preso por ter matado aquelas 77
pessoas na Noruega, no ano passado. Um tribunal o considerou mentalmente são. Depois
de ouvir a sentença, Breivik, que matou por uma causa – supremacia racial, anti-islamismo,
anti-imigrantes, – pediu desculpas aos que pensam como ele por ter matado tão
poucos.
No
fim de 21 anos, a Justiça norueguesa decidirá se Breivik pode ser solto,
presumivelmente regenerado, ou se aproveitaria a liberdade para terminar o
serviço e portanto deve continuar preso.
Na
prisão, ele não deve se tornar menos radical do que é, talvez fique mais. Ou
talvez se arrependa do que fez e saia depois de 21 anos como um cidadão
exemplar. Ou talvez, com o tempo, se transforme num mártir da causa, que tem
cada vez mais adeptos numa Europa conflitada.
O
tribunal deve ter pensado nisso, ao pesar todas as consequências da sua decisão.
Recusando-se a considerá-lo louco, reconheceu que muita gente pensa como ele. Não
fez como os que atribuem o fascismo a uma patologia passageira na história
europeia, o que é quase uma forma de absolvição.
Como
deveria ser o castigo de Breivik? Qual é a forma matemática de repartir 21 anos
por 77 mortos? Como se contabiliza a culpa por uma chacina para que pareça
justiça? A justiça bíblica tinha a vantagem da simetria: um olho por um olho,
um dente por um dente, uma quantidade de chibatadas proporcional ao tamanho do
pecado. Ou, sempre que possível, uma retribuição que imitasse a ofensa, uma
morte por uma morte.
A
pena de morte, que não existe mais na Noruega e na maioria dos países
civilizados, é um castigo irracional, ou só explicado como uma recaída na
simetria primitiva. Para ensinar alguém a não cometer o crime mais hediondo, o
de tirar uma vida, o Estado repete nele o crime hediondo.
Mas
se nenhuma forma de retribuição parece adequada aos crimes de Breivik, ficamos
nós apenas com nossa perplexidade diante do comportamento humano, do ódio e da
constatação de que não é preciso ser louco para lamentar que 77 mortos foi
pouco.
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