JANIO
DE FREITAS
As
vozes
No
momento, não se sabe o que a voz silenciosa da opinião pública pede aos seus
magistrados mais altos
É INCERTO
que os julgadores do mensalão ouçam a opinião pública, como lhes recomenda
Fernando Henrique Cardoso. Com tantas pressões dirigidas aos leitores,
espectadores e ouvintes, em linha direta e como reflexo das pressões sobre o
Supremo Tribunal Federal, no momento não se sabe o que a voz silenciosa da
opinião pública pede aos seus magistrados mais altos. Mas tal incerteza está acompanhada
de ao menos duas certezas.
O
rendado de palavras que enfeita, em torno, a recomendação de Fernando Henrique
evidencia que a opinião pública referida é a opinião do público peessedebista.
A
recomendação é um apelo velado no sentido de que o Supremo Tribunal Federal não
negue o seu socorro ao catatônico PSDB, nesta hora difícil dos confrontos
eleitorais. Tudo por um punhado de condenações de petistas.
Outra
certeza é o que diz a voz verdadeira da opinião pública. A voz quando não
desafinada pelas pressões, a respeito do que deseja dos seus magistrados, ou,
como prefere, da Justiça.
É a
imparcialidade nos julgamentos todos. É a equanimidade entre as decisões
voltadas para os desprovidos e aquelas que se dirigem aos possuidores de
riqueza ou de força política. É o direito à justiça também quanto ao tempo,
porque, mesmo se favorável, a decisão que tarda dez, 20, 30 anos nunca fará justiça.
É o julgamento limpo do mensalão, para condenar sem maldade ou absolver com
grandeza.
HISTÓRIA
DE CRIMES
O
aumento da lista oficial de mortos pela ditadura, de 357 para quase 1.000, traz
para a história uma parte dos corpos que ficaram caídos nos canaviais, ou junto
das usinas, muitos nas sedes dos sindicatos rurais e das Ligas Camponesas,
tantos mais diante dos olhos da mulher e dos filhos. As primeiras semanas
seguintes ao golpe de 64, no interior do Nordeste, sobretudo de Pernambuco e
Paraíba, justificam esta palavra horrível: carnificina.
A
revelação do novo levantamento, feita pelo repórter Lucas Ferraz na Folha, é um
passo promissor para que sejam expostos os crimes de inúmeros usineiros,
capatazes e jagunços. Por anos e anos, o usineiro Ney Maranhão veio a manchar o
chão do Senado com os vestígios de sangue em suas sandálias, mesmo quando
apenas memoriais. E Nilo Coelho, e outros ainda por lá ou por Brasília, todos
protegidos pelo silêncio.
Essa
história começou a ser contada, lá atrás, pelo documentarista Eduardo Coutinho,
talento e alma admiráveis. A hora da Comissão da Verdade é boa para retomá-la.
UMA
PESSOA
O
advogado Márcio Thomaz Bastos que abandona a causa de Carlos Cachoeira é a
mesma pessoa ética que assumiu a causa e a mesma anterior a assumi-la. O
intervalo ético que fica em sua vida não é por ter sido breve advogado de
Cachoeira, mas pela falta de ética que o agrediu então. No fundo, um imenso
louvor sob a forma de agressão boçal, só produzida pelo respeito admirador
enganadamente ferido.
Convém
não esquecer também: se vemos, de 2003 para cá, incessantes ações da Polícia
Federal contra poderosos e prestigiados envoltos em corrupção, deve-se a Márcio
Thomaz Bastos. Quando ministro da Justiça, enfim acabou com a discriminação
praticada pela Polícia Federal como norma.
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