29
de agosto de 2012 | N° 17176
ARTIGOS
- Paulo Afonso Pereira*
O Brasil caiu na
real
O
Brasil caiu na real. A estratégia utilizada pelo governo federal de diminuir
impostos para acelerar a economia através do consumo mais uma vez mostrou-se
ineficiente. A população comprou mais do que podia pagar. O país cresceu apenas
0,2% no primeiro trimestre de 2012.
A
visível bolha de crédito foi fruto de uma política de incentivo a gastos,
tomada de financiamentos, compras impossíveis de serem pagas, taxas extorsivas
de juros, unidas à ufania de que o país estava bem. Felizmente dados recentes
comprovam que a inadimplência começa a apresentar os primeiros sinais de recuo
e isto alimenta alguma expectativa de que a médio prazo seja possível haver
retomada da expansão da demanda por produtos e serviços.
De
outra parte, o mercado interno brasileiro, que estava estagnado, começa a
apresentar os primeiros sinais de recuperação, assim como a indústria, cuja
confiança vem aumentando lenta e gradativamente com a tênue procura por
créditos para investimentos.
O
Plano Nacional de Logística Integrada (PNLI), lançado no dia 14, abre
importante sinal de luz no fim do túnel. Parece que o governo federal desta vez
olhou para as suas entranhas e enxergou a sua incapacidade de realizar as obras
necessárias para que a produção brasileira seja competitiva.
E,
sabendo desta urgência, fez o dever de casa chamando o capital privado para ser
a locomotiva no desenvolvimento da infraestrutura do país. A ineficiência de
nossas estradas há décadas faz com que a produção seja transportada sem
agilidade e com custos que encarecem enormemente todos os produtos. Portos,
aeroportos, estradas, transporte ferroviário e rodoviário precários são um
gargalo consumidor de recursos que atrasam o país.
Oxalá
a iniciativa privada convocada pela presidenta Dilma a participar deste
banquete consiga viabilizar os grandes projetos de infraestrutura necessários
para que o país comece a tomar assento no mundo dos desenvolvidos.
A
retomada do crescimento, que começa a dar alguns sinais, dependerá
fundamentalmente da capacidade do Brasil de colocar em prática esta e outras
mudanças importantes. É preciso ressaltar, entretanto, que os R$ 133 bilhões
previstos para serem investidos no PNLI serão insuficientes. Para que o país
tenha de volta a malha ferroviária que tinha em 1958, seria necessário este
investimento anualmente e não pelo período proposto.
O
governo tem tomado diversas ações para estimular a economia, afetada pela crise
internacional, e vai acelerar o passo a partir do segundo semestre.
O
lamentável é que as boas medidas no Brasil são tomadas aos soluços, sempre em
situações emergenciais. Criatividade, inovação, visão, gestão, planejamento,
parece, ainda estão em falta nas prateleiras de quem comanda o país.
*ECONOMISTA,
EX-PRESIDENTE DO INPI
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