sexta-feira, 17 de agosto de 2012



17 de agosto de 2012 | N° 17164
DAVID COIMBRA

A correnteza humana

Aconteceu algo comigo em Londres que não contei nos textos da Olimpíada. Foi depois da cerimônia de abertura. Saí tarde do estádio porque tinha de enviar o material para Porto Alegre. Então, não havia mais trem, nem encontrava táxis nas imediações. Tinha de conseguir um ônibus para voltar ao hotel. Caminhava ao lado do Estádio Olímpico, o laptop pesando dentro da mochila pendurada nos ombros.

A certa altura, percebi que, a poucos metros de distância, num corredor formado por cavaletes de metal, os atletas que haviam participado da cerimônia andavam em direção aos prédios da Vila Olímpica. Todos os atletas juntos, fluindo como um rio para o mesmo local.

Não resisti. Decidi que precisava me juntar a eles. Foi o que fiz. Aproveitei uma brecha entre dois cavaletes e me misturei à correnteza humana.

E naquele instante me vi em meio a pessoas de 204 países. Havia muçulmanas cobertas com o xador da cabeça aos pés, havia indianos de turbante, havia asiáticos de olhos amendoados, havia negros africanos de dois metros de altura e alemães de cabelo loiro e holandeses de camisa laranja e mexicanos de pele morena e homens e mulheres de todos os tamanhos e cores e eles falavam português, inglês, espanhol, chinês, japonês, malaio, eles falavam todas as línguas.

Pensei que aquele era um momento único. Pessoas de mais de 200 países caminhando todas na mesma direção, convivendo em paz, rindo, brincando, sem nenhum problema entre elas. Elas não eram diferentes, naquele momento, simplesmente porque as pessoas, na essência, não são diferentes.

Todas sentem as mesmas necessidades básicas, que, em resumo, são duas: segurança e amor. E, se todos querem o mesmo, por que não caminhar na mesma direção?

Era uma imagem óbvia, reconheço. Mas ali, naquela amena noite do verão londrino, tive a certeza de que, às vezes, nada é mais importante do que compreender o óbvio.

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