29
de agosto de 2012 | N° 17176
MARTHA
MEDEIROS
Preenchimentos
Como
toda mulher, também gasto alguns minutos em frente ao espelho com as mãos
espalmadas no rosto tentando imaginar como seria se eu puxasse um pouquinho
aqui, um pouquinho ali, mas nunca fui além da simulação – ainda não tive
coragem de enfrentar o bisturi. Amigas aconselham: não precisa partir para algo
radical, faça apenas um preenchimento, ora. Toda mulher moderna e inteligente
faz, mas não gosto nadinha da ideia de injetarem no meu rosto coisas assustadoras
como polimetilmetacrilato ou ácido hialurônico.
Outro
dia, uma moça me explicou como o dermatologista, depois da aplicação, ficou
moldando a substância com os dedos até que se assentasse no lugar certo. Quase
passei mal. Não deviam contar esses detalhes para mulheres impressionáveis. E,
como se não bastasse eu ser de outro século, ainda deparei com as fotos da mãe
do Stallone. Aí, ferrou.
Preenchimento
estava na minha lista de resoluções para 2012. Também esteve na de 2009, 2010 e
2011. Acaba de ser adiada, mais uma vez, para 2013 ou 2014, dependendo da minha
capacidade de evoluir. Enquanto esse dia não chega, vou continuar me
preenchendo com material obsoleto como livros, filmes, exposições, teatro. Não
irão me deixar mais jovem nem mais bonita, mas ao menos o cérebro não ficará
flácido. Como bem lembrou, recentemente, a linda atriz Aline Moraes, “a beleza
pode desmoronar quando se abre a boca”.
Mudando
de assunto, mas nem tanto, também me abismei com os erros de português que
foram detectados nas legendas da propaganda eleitoral na TV, em que se viram
preciosidades como “ensentivo”,
“disperdiço”, “trofel”, “concurço” e “pulitica”, palavras que não possuem nem
de longe o grau de dificuldade de um polimetilmetacrilato. Cheguei a iniciar
uma crônica, mês passado, sobre esse assunto: escrever errado todos escrevem,
eu erro, tu erras, ele erra. Não depõe contra o caráter de ninguém, mas não se
pode relaxar.
É
preciso continuar estudando, ler mais, consultar dicionários. Não cheguei a
publicar a crônica porque ela foi inspirada nos bilhetes deixados pelo
bioquímico que assassinou a mulher e o filho na zona sul de Porto Alegre.
Diante de uma tragédia daquela magnitude, não cairia bem falar dos assassinatos
gramaticais que ele também praticou. Eram tragédias incomparáveis. Mas a mim
doeu tudo.
(Sei
lá como se escreve.) Quem de nós, durante um bilhete, um e-mail, um tuíte, não
colocou essa frase entre parênteses diante da dúvida sobre como escrever uma
palavra difícil ou uma expressão estrangeira? Então, para não encerrar essa
crônica com tragédia, e sim com tragicomédia, dê uma espiada no site
http://seilacomoseescreve.tumblr.com/page/2 e divirta-se. Rir também
rejuvenesce – e não dói.
Lindo
dia pra você - Uma gostosa quarta-feira.
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