terça-feira, 21 de agosto de 2012



21 de agosto de 2012 | N° 17168
DICAS BRASIL

Calor que aquece a alma

No meio da floresta amazônica, a quente Maués tem orgulho de ser a capital do guaraná

Eu poderia dizer que faz calor, que há mosquitos, que a umidade deixa a pele grudenta e os cabelos desalinhados o dia todo. Eu poderia dizer que o celular é pouco útil (não há sinal), que a ausência de internet é angustiante e que a sensação, na maior parte do tempo, é de se estar em outro mundo, em que os nossos itens e necessidades mais essenciais são completamente dispensáveis.

Mas seria de uma injustiça irreparável com a Amazônia, com o povo daquela terra e com o que sinto cada vez que fecho os olhos e me invade as narinas o cheiro da viagem. Estar na Amazônia me fez conhecer uma beleza inédita, foi uma aventura que me apresentou experiências inesquecíveis e me mostrou que a vida pode ser mais simples, mais leve e muito mais divertida.

Basta sair do ar-condicionado potente do Aeroporto Internacional de Manaus para perceber que não é exagero quando o povo fala que a terra é quente. Quente e inconstante. Para cada hora de sol, os céus nos brindam com 20 minutos de chuva torrencial.

Depois, o Astro Rei dá o ar da graça com a mesma força de antes, como se nada tivesse acontecido. E a gente cozinha no vapor. Manaus é feita de contrastes também nas ruas: gente muito rica, gente muito pobre, uma infinidade de pontos turísticos com infraestrutura de cidade grande e uma floresta com o que há de selvagem por perto.

Mas o contato direto mesmo com a tal da Amazônia (um lugar tão falado, por tantas perspectivas diferentes e que, no fim das contas, tão pouca gente conhece) a gente só sente quando entra em um barco naquele rio gigantesco, que, se fosse salgado, eu chamaria de mar.

A viagem entre Manaus e a pequena Maués (são 267 quilômetros em linha reta e 356 por rio) dura mais de 24 horas (na ida, a favor da correnteza). Na volta, quando o barco navega contra o rio, no relógio, o tempo é maior. Mas a saudade antecipada, a vontade de que o tempo se arraste para ver mais um ou dois botos acompanhando a embarcação faz a empreitada passar em um piscar de olhos. Também é possível chegar lá de avião, em voos fretados, mas não deve ter a mesma graça.

CAROLINA CARVALHO*

Nenhum comentário: