20
de agosto de 2012 | N° 17167
PAULO
SANT’ANA
O perfume do sândalo
Escrevo
antes do jogo de ontem no Olímpico, os leitores vão em seguida saber por quê.
Vou
só me referir à minha coluna da última quinta-feira.
Estive
meditando sobre a enxurrada de e-mails que recebi a respeito. Muitos apoiando a
crítica acerba que fiz ao goleiro Marcelo Grohe, outros muitos afirmando que
minha coluna foi desumana com o goleiro.
Acho
que vou me fixar na “desumanidade”.
Escrevi
a coluna sob violenta emoção, vindo do Olímpico e apressado para baixar o meu
espaço no jornal. Era tarde da noite.
E,
sob violenta emoção, posso ter-me excedido e por alguma forma danificado a
personalidade do criticado. E um bom jornalista tem de ter o cuidado de não
danificar jamais a dignidade de uma pessoa que ele critica.
Sei
que Marcelo Grohe é uma pessoa articulada e tem consciência de que se tornou um
homem público mais visado ainda quando se tornou titular absoluto do Grêmio. Enquanto
foi reserva durante anos, não corria esse risco de ser veementemente criticado,
embora eu não o tenha por nenhuma forma ofendido com palavras sem remendo.
Eu
tenho de ter humildade para analisar o choque que houve na opinião pública com
aquela minha coluna.
E,
na imperiosa humildade, sou obrigado a admitir que eu possa ter me excedido.
Não é
sobre a opinião que tenho e não vou deixar de ter, a menos que Marcelo Grohe se
torne ainda um grande goleiro. Mas é sobre o tal dano que eu possa ter causado à
pessoalidade do goleiro.
Se o
causei, peço desculpas a Grohe, ele sabe que sou gremista ferrenho e os
ferrenhos podem muitas vezes se exceder.
Pedidas
as desculpas, quero afirmar, por já ter lido muitas obras a respeito, que é muito
grande a responsabilidade de jornalistas que são muito lidos e penetram no âmago
da consciência popular. Talvez seja essa a minha omissão: eu desconheci, às
pressas, a penetração da minha coluna nas massas, daí a repercussão daquele meu
espaço.
Não é
a primeira vez que me acontece isso nesses meus 41 anos de Zero Hora.
Pois
se feri, sem intenção, com aço frio a dignidade profissional de Marcelo Grohe,
quero fazer com esta coluna, talvez pretensiosamente, o que a árvore sândalo
fez com o machado que a derrubou, perfumando-o.
Permanece,
no entanto, inalterável a minha liberdade crítica, construída com mais de
quatro décadas de credibilidade, modéstia à parte.
E
vamos para outra. Eu, com mais uma lição aprendida.
O
futebol é um campo fértil para as paixões, eu apenas tenciono por vezes mesclar
a emotividade com colocações racionais.
Não
abro mão disso, é enfim o meu cabedal.
Os
meus leitores, há tanto tempo fiéis a mim, me conhecem.
A
gente pode se exceder em algum dia, mas a humildade, esta nunca há de ser
desnecessária e excessiva.
Um comentário:
Sr. Santanna, por favor!!! Depois de milhares de críticas, e somente por isso vem a público esse mísero pedido de desculpas, permeado de soberba e autoestima...
Nos poupe!!!
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