20
de agosto de 2012 | N° 17167
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Sem educação não há futuro
Levei
um choque na manhã em que li a notícia estampada na primeira página da Zero
Hora, como faço todos os dias, segundo a qual o pior resultado apurado pelo
Ministério da Educação mediante a avaliação processada pelo Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) estava no sul do país.
Eu não
ignorava que a qualidade do ensino sul-rio-grandense estivesse em nível pouco
desejável, mas também não esperava que lhe fosse reservada esta deplorável
qualificação, até porque o resultado nacional não é lisonjeiro...
Basta
dizer que foram tímidos os avanços no Ensino Fundamental, que envolve 98% dos
alunos entre 7 e 14 anos, e em relação ao Ensino Médio, que atende os jovens de
15 a 18 anos, foi de estagnação. Neste quadro geral e neste cenário, forçoso é reconhecer,
é lamentável a posição do ensino na Província de São Pedro.
Ela é
tanto mais desairosa quando o ensino no Rio Grande era um dos dois melhores em
todo o Brasil, tempos que lembram o saudoso secretário Coelho de Souza. A
verdade é que hoje a realidade é outra e a indagação que deve ser feita é como
e por que isto ocorreu. Dispensável dizer que a causa não será única, mas várias
como sói acontecer, e não será no espaço de um artigo que se poderá apontá-los.
Com esta ressalva, mencionarei apenas um.
Não
direi novidade que o ensino supõe a conjugação de variados elementos, a partir
do professor, a cordialidade, o respeito, a cordura, a serenidade, o exemplo,
sem falar na competência referente ao que ensina e na maneira de ensinar e em
quanta coisa mais. Ora, parece-me inegável a emergência de um fator novo, pouco
ou nada compatível com as qualidades exemplificativamente aludidas, que
chamarei de belicosidade, na ausência de melhor designação.
Ontem
não entrava no colégio, hoje tomou conta do ensino e foi além. O ensino e a
belicosidade são incompatíveis. Não sei se diga que na medida em que o ensino
se foi desfigurando a belicosidade crescente ou se na medida em que a
belicosidade chegou à sala de aula a qualidade do ensino entrou a mermar. O
fato é que parece ter havido uma convergência da violência com o declínio da
qualidade do ensino.
A
violência ou a belicosidade tem ou vem tendo várias modalidades, inclusive a do
sindicato ou que outro nome tenha. Não ignoro que a menção a este dado poderá desagradar
a um ou outro setor, mas tenho o hábito de dizer o que penso ainda que pedindo
desculpas pelo eventual desgosto que possa causar. Estou convencido de que o
sindicato consorciou-se com o ensino, impurificando o ambiente com seu mau hálito.
Um fato é inconteste: o sindicato agigantou-se e o ensino decaiu.
A
propósito, lembro que quando a senhora presidente mostrou-se desgostosa com a
aferição do PIB em determinado triênio e sua influência com o PIB do ano de 2012,
desprezou-o publicamente, como se a sua medição tivesse alguma culpa no caso, e
não se limitasse a medir o que vira e sentira, preferindo os maravilhosos benefícios
da educação como critério a revelar as realidades nacionais, lembrei que além
da educação nada ter com o pífio resultado do PIB, e o que era mais, o ensino
brasileiro não estava em condições de recomendar o país.
Infelizmente,
ficou confirmado que a emenda fora pior que o soneto. A senhora presidente
ficaria melhor servida se voltasse ao PIB como é em todo o mundo e também na
Alemanha, na França e na Itália, que são as três maiores economias da Europa, e
ainda na Espanha e no Reino Unido tiveram “crescimento negativo” e nem por isso
romperam relação com o respectivo PIB.
O
PIB mostra que o momento presente é grave, tanto que aí está o perigo da
desindustrialização. Os dados do ensino alarmam, pois sem educação não temos
futuro.
Mal
no presente, comprometidos para o futuro, será que nos resta só o passado?
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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