11
de agosto de 2012 | N° 17158
ARTIGOS
- Alcione Santin*
O semeador
O
semeador é um visionário. Ao jogar as sementes no solo, antecipadamente, sabe o
que vai colher. Rega-as, livra-as das pestes daninhas para não comprometer seu
desenvolvimento. Preocupa-se com as condições para que as plantas venham a dar
bons frutos.
Assim
é o pai, um eterno semeador. Um orientador convicto, um incansável conselheiro.
Um mestre que lança no solo da vida conceitos para a melhor formação dos filhos.
Seleciona as sementes da concepção de valores, de educação, de princípios éticos,
de respeito e de tantas outras para a formação de bons cidadãos. É verdade que
a referência é de pais cidadãos, como a grande maioria o é, não dos que vivem à
margem dos valores sociais.
Pais
portadores de sonhos, que às vezes falham por idealizarem seus filhos. Procuram
preservá-los das armadilhas da vida. Orgulham-se por se sentirem pais heróis,
sem se darem conta de que tudo é passageiro. Nas suas mentes, pairam nuvens de
dias repletos de felicidade sucesso e gratidão. Alimentam a certeza de que seus
descendentes são os melhores entre os demais. Mundo de sonhos e ilusões! O ser
humano é singular, mas vive no plural.
A
realidade, muitas e na maioria das vezes, é ingrata e implacável. Quando os
filhos buscam sua independência, afastam-se dos “heróis” para trilhar seu próprio
caminho. Aos pais, a roda da vida lhes apresenta a dura realidade: frustrações,
sonhos que não se realizaram, namoros, profissão, estudos, amizades, independência
e mais e mais! O arquiteto dos sonhos vê seu castelo ruir. Surge o desespero de
ver tantas horas, tantas palavras, sem refletirem seus intentos. Sentem-se
frustrados, substituídos por amizades desconhecidas.
O
papel de pai passa a ser substituído por amigos, mas nem sempre bons amigos! Suas
sempre crianças, agora adolescentes, lançam seus voos em busca da “liberdade”,
de novos horizontes, de desafios. Sabem que podem dar-se mal, mas aventuram-se.
Por outro lado, seus progenitores alimentam a insegurança de que seus “infantis”
não estão preparados para todas as adversidades da vida. Mas é a vida, um
eterno crescimento.
É bem
verdade que a fase de criança e adolescência não tem mais o romantismo de antes.
A dinâmica de hoje afastou muito os laços familiares. A mudança entre gerações é
na velocidade luz, e nem todos conseguem assimilar as diferenças. Isto pode vir
a definhar gradativamente e até falecer a relação entre pais e filhos.
Fica
a saudade dos tempos em que os padrões eram rígidos, as palavras eram ordens
absolutas, as chineladas nada mais eram que meios para educar e estabelecer
limites. Nossos pais semeavam e sabiam o que iriam colher. Nos dias atuais,
semeamos sem saber quais serão. Nossos filhos estão à mercê de uma sociedade
violenta, insegura, contaminada de pessoas das piores estirpes, e o pior, em
todas as camadas sociais. Nosso consolo é que neste caldeirão ainda existem
boas referências, quer seja de pais, quer seja de filhos. Que a semeadura
produza uma colheita farta e um banquete familiar.
*DIRETOR
DA ESCOLA DE TRÂNSITO SALGADO FILHO
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