sábado, 11 de agosto de 2012



11 de agosto de 2012 | N° 17158
NILSON SOUZA

Curiosidade

Alô, alô, marcianos, estamos chegando. Preparem o xis, que já desembarcamos fotografando, pois agora essa é a nossa principal diversão por aqui. Nem bem baixou a poeira da geringonça que mandamos para o solo de Marte e as primeiras fotografias do planeta vermelho já estão em nossos computadores.

O jipão de seis rodas, que viajou durante nove meses pelo espaço, já transita pelas crateras rochosas da estrela vermelha, transportando o sentimento humano que lhe inspirou o nome: Curiosidade.

Acertaram os cientistas da Nasa ao batizá-lo de Curiosity. Se não tivéssemos esse instinto irresistível para desbravar o desconhecido, certamente ainda estaríamos encolhidos no fundo de nossas cavernas, sem coragem de disputar o mundo com as outras espécies.

É a curiosidade que nos move à exploração, à investigação e ao aprendizado. Já estivemos na Lua e já mandamos outras bugigangas para Marte, mas desta vez chegamos lá motorizados, com braços robóticos capazes de colher pedras e perfurar o solo, com 17 câmeras de alta definição e com um raio laser programado para destruir rochas.

O próximo passo será humano. Felizmente, já passou o tempo em que expúnhamos animais a riscos e a viagens sem volta. No início da corrida espacial, os russos colocaram em órbita uma cadela chamada Laika, que sobreviveu pouco mais de cinco horas após o lançamento do Sputnik, o primeiro satélite artificial a poluir o espaço.

Agora vamos de robô motorizado. Na verdade, não viajamos 570 milhões de quilômetros para fotografar montanhas e pedras. A engenhoca da Nasa procura bactérias, ou o que sobrou delas, pois temos verdadeira obsessão em encontrar vida fora do nosso cada vez mais superlotado planeta. Uma ameba marciana já seria a glória da ciência.

Por isso, houve tanta festa na Agência Espacial dos Estados Unidos, na Califórnia, quando o carrinho desceu suavemente no solo marciano, na última segunda-feira. O locutor da missão celebrou, emocionado:

– Nossas rodas estão em Marte. Meu Deus!

E cientistas de várias nacionalidades celebraram, comendo chocolate e trocando abraços. Somos mesmo engenhosos. Inventamos a roda, o chocolate, a máquina fotográfica e as naves interplanetárias. Falta-nos, talvez, inventar uma fórmula para viver em paz nesta casa que o acaso nos destinou.

Acaso? Eis aí uma palavra que não combina com o nosso instinto primacial de buscar a origem das coisas.

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