03
de agosto de 2012 | N° 17150
ARTIGOS
- Nayr Tesser*
Uma velha sem concessões
Eu não
preciso usar tatuagens para mostrar que sou jovem, ou provar que sou moderna e
estou atualizada. Até porque não sou nem jovem, nem moderna, dependendo do
sentido que a maioria dá a moderna, pois, apesar de usado frequentemente como
argumento para justificar “mas tudo mudou”, com raras exceções quem o usa sabe
definir o que seja. Minhas tatuagens não aparecem na superfície da pele porque
estão na alma e no coração e não há idade que as apague.
Eu não
preciso ir a bailes de terceira idade para provar que vivo ou sei viver. Até porque
continuo dançando sozinha ou acompanhada e com as netas. Ensaio para um musical
que pretendo fazer e, se não o fizer, não importa, pois o bom mesmo é a combinação.
Não
preciso gostar de todas as invenções eletrônicas para provar que estou
atualizada, em consonância com o progresso. Não preciso saber manipular um
celular para mostrar que aprendi alguma coisa na vida e não estou ultrapassada.
Não
preciso saber lidar com o computador, ou utilizar todos os recursos desse
instrumento para me comunicar com as pessoas ou com o mundo. Todo recurso que não
tenha cheiros, toques, alegrias e contradições não é uma comunicação humana. Com
a internet, transformo seres em imagens virtuais, mas o que preciso é de gente
com cabeça, tronco e membros, alma e coração!
Eu
quero estar no lugar em que estou, uma mulher de 71 anos, sem mais nem menos,
pois a velhice é a idade da essência, não da circunstância. Quero estar onde
estou, porque não posso negar os anos vividos, as coisas conquistadas, as
dificuldades para me reconhecer e aceitar, as dores que tanto me ensinaram, as
vivências maravilhosas no exercício da profissão e foi com ela que aprendi a
ficar feliz com o crescimento alheio.
Eu
sou uma velha e não é substituindo a palavra por eufemismos baratos que
deixarei de sê-lo; os demais é que mudem suas concepções, pois, ao querer
substituir as palavras por outras, revelam que a imagem é negativa. Pois, então,
o que deve mudar são as cabeças, pois, se estas não mudarem, não é substituindo
os termos da equação que mudarão os resultados.
Aliás,
quando meus alunos dizem gentilmente que não sou velha, deslocam-me para a
categoria dos jovens e com isso não terão na velhice quem lhes sirva de modelo.
E, depois, gosto da minha categoria, a categoria antiga, até porque ela goza
das seguintes qualidades:
1. Tem
uma escala de valores, isto é, tem ética; não confunde ética com moral; 2. Tem
moral, respeita as regras no momento eleitas pela sociedade; 3. Sabe o
significado das palavras gratidão e respeito; 4. Não expõe seu afeto em público
e se deixa seduzir pelo amor; e 5. Tem brilho no olhar. Pra que mudar?
*PROFESSORA
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