02
de agosto de 2012 | N° 17149
L. F.
VERISSIMO
Celebração
Caiu
muita coisa do céu no espetáculo de inauguração da olimpíada de Londres: as
argolas olímpicas incandescentes, várias Mary Poppins – e a rainha, de
paraquedas. Está certo, não era a rainha e sim um fac-símile razoável, mas
Elizabeth se prestou a participar da encenação e só cedeu seu papel a um dublê na
hora do salto, apesar da insistência do príncipe Charles para que ela mesmo se
atirasse.
De
qualquer jeito foi admirável ver a rainha incluída numa seleção de ícones britânicos
– Shakespeare, Beatles, 007 – feita sem distinção entre o pop e o solene. Tudo
que era solidamente inglês se integrava no espetáculo, fosse a rainha ou o Mr. Bean.
Imagino
que a primeira decisão de quem organiza uma festa como a da inauguração da
olimpíada ou de evento similar como uma Copa do Mundo deva ser entre celebrar o
país que faz a festa ou o chamado espírito olímpico, de congraçamento entre os
povos acima de fronteiras e identidades nacionais, etc., etc.
Os
ingleses decidiram ser ingleses ao ponto de ostentação. Nada de espírito olímpico,
o festejado, e bem festejado, foi o espírito nacional. Mas não foi uma celebração
acrítica. Mostraram a revolução industrial que começou na Inglaterra e mudou o
mundo e ao mesmo tempo – com aquelas espantosas chaminés brotando do chão para
espalhar a fuligem por campos outrora verdes e pastorais – as consequências das
sombrias usinas satânicas, as dark satanic mills do poema de William Blake, na
vida das pessoas.
E não
deixou de haver política na apresentação. Não havia muita razão para aquele
longo segmento dedicado ao serviço nacional de saúde, o plano de assistência médica
universal posto em prática pelos trabalhistas que nenhum governo conservador
ousou tocar, a não ser como um recado para o atual governo conservador.
Como
medida de austeridade para enfrentar a crise o governo Cameron está cortando
benefícios sociais com um entusiasmo inédito desde os tempos da sra. Thatcher e
sua machadinha impiedosa.
O
show das enfermeiras dançantes e das crianças bem tratadas foi para lembrar que
o National Health Service é uma instituição inglesa tão digna de ser celebrada
quanto as outras – e quem se atrever a mudá-la terá que se entender com a Mary
Poppins.
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