quinta-feira, 2 de agosto de 2012



02 de agosto de 2012 | N° 17149
LETICIA WIERZCHOWSKI

Duas vozes de esperança

Eu já tinha lido sobre Aung San Suu Kyi, que passou quase duas décadas em prisão domiciliar em Mianmar, e ganhou o Nobel da Paz em 1991. Mas sábado fui ver o filme de Luc Besson, Além da Liberdade (The Lady). O filme não é maravilhoso, mas é muito bom – me fez chorar em alguns momentos.

Suu Kyi é filha do general Aung San, líder separatista birmanês que foi assassinado no começo do processo de independência do país, tornando-se um herói para a população. Suu Kyi tinha dois anos quando explodiram a cabeça do seu pai, e passou boa parte da vida na Inglaterra, onde conheceu o britânico Michael Aris.

Tiveram dois filhos e viveram uma peculiar história de amor. Aos 42 anos, Suu segue para Mianmar porque a mãe teve um AVC e, de repente, se vê no cerne de uma onda de violência sem precedentes. Então, a pacata dona de casa assume a liderança da Liga Nacional pela Democracia, atraindo para si a fúria de um ditador maluco.

Presa em Mianmar e sustentando a causa da liberdade e da democracia no seu país, Suu não acompanhou o crescimento dos seus meninos: pareceu-me muito bonito que ela seja hoje chamada pelo povo birmanês de “Mãe Suu”...

Enfim, vale ver o filme e relevar seus vários pequenos defeitos – passando-se por turista, Luc Besson rodou partes da história em Mianmar com uma pequena câmera, às vezes com um militar a poucos metros de distância. A maioria dos figurantes birmaneses insistiu em não aparecer nos créditos por medo. Mas, apesar das cegas garras da ditadura, o filme está aí, iluminado pela atuação da malaia Michelle Yeoh.

Outra história incrível que ganhou o mundo é a do maratonista Guor Marial, ex-refugiado da guerra civil no Sudão. Ainda criança, Marial perdeu 27 familiares e foi enviado para um campo de trabalhos forçados. Ele fugiu do campo, escondendo-se em um buraco durante as noites e correndo por dias inteiros na direção do sol.

Como o recém-emancipado Sudão do Sul não tem um comitê olímpico, Guor Marial, que vive há 16 anos nos EUA, participa das Olimpíadas como atleta independente – na África, ele correu para salvar a vida, em Londres, corre por uma medalha para o seu país, o qual representa indiretamente. “A esperança do Sudão do Sul está viva”, disse Guor Marial.

Suu Kyi ficou por quase duas décadas sob o mesmo teto, isolada do resto do mundo. Guor Marial correu por meses e meses, e correr virou a sua forma de fazer a diferença. Duas vidas incríveis. Duas vozes gritando a esperança.

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