03
de junho de 2012 | N° 17089
PAULO
SANT’ANA
País sem
oradores
O
certo é a gente filiar-se a um partido político, reunir-se lá, arregimentar-se,
escolher um candidato ou candidatar-se e agir politicamente, pois sabe-se que
não se pode organizar a sociedade sem política.
Mas
a impressão que a realidade brasileira está mostrando é que alguém que hoje se
filia a um partido político está em busca de uma vantagem pessoal.
Eu
noto tragicamente que a maioria do povo brasileiro pouco está ligando para a
política, para os governos, para a instituições.
As
pessoas são alienadas da política, da economia, da organização social.
Essas
pessoas escolheram ser alienadas para serem felizes ou menos infelizes.
É
uma desilusão total. Os mais respeitáveis vultos da organização social ou se
corrompem, ou se beneficiam de privilégios.
Mas
o que eu noto é que o povo alheou-se completamente das instituições. Pouco se
lhe dá que fulano ganhe propinas na função pública, que determinadas classes
sobrepujem as outras em privilégios e benesses, que as tetas do erário sejam
sugadas por bocas ávidas de insaciáveis butins, que os políticos se organizem
para se locupletarem pela corrupção.
O
homem do povo, pelo que noto ao meu redor, está pouco ligando para isso tudo.
E, quando falo em homem do povo, não estou falando só das pessoas incultas. Até
os cultos e articulados se mostram tristemente indiferentes a essa
esculhambação moral que se instalou no cerne da dissimulada civilização
brasileira.
Como
acabou o ardor cívico, as pessoas do povo preocupam-se somente em alcançar pelo
trabalho ou pelo estudo melhores posições.
E
que se lixe a política e que prossigam os saques aos tesouros públicos.
Não
há hoje no Brasil uma só liderança que empolgue, uma só voz política que
apaixone, não há um farol, não há mais nada. É cada um por si na mixórdia
instalada.
Isso
faz desabar o espírito das pessoas conscientes, que se aturdem com o destino
que lhes pregou a peça de serem brasileiros.
Estão
vindo por aí as eleições, sucedem-se as eleições, mas notem que o povo nem liga
para elas e nem quer saber quem serão os candidatos, um quadro trágico de
desinteresse, que só pode agravar mais ainda esse cenário desolador.
E
dizer-se que houve um tempo neste país em que a maior atração não era o rádio
ou o futebol, as maiores atrações eram os oradores políticos e partidários, que
incendiavam nos palanques e nos microfones as mentes e os corações dos
brasileiros.
É
tão grave a crise moral, que desapareceram completamente dos quadros políticos
os grandes oradores.
Somos
um povo sem discurso, portanto sem leme, sem rumo, sem esperança. E isso nem
chega a ser um povo.
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