16
de junho de 2012 | N° 17102
NILSON
SOUZA
O espelho do tempo
Num
certo dia de junho do ano da graça de 1991, o colega Pedro Chaves, editor da página
reservada aos leitores neste jornal, ingressou na Redação com uma filmadora nas
mãos. Como uma criança com o seu brinquedinho novo, foi passando entre as mesas
de trabalho e, em silêncio, registrando imagens dos colegas.
Todos
fomos pegos de surpresa, pois estávamos concentrados em nossos afazeres. Alguns
fingiram que não era com eles, outros enfrentaram a câmera com um olhar
desafiador, os brincalhões deram a clássica abanadinha para o cinegrafista e
teve até uma jovem, mais saidinha, que aproveitou o momento de visibilidade
para um improvisado desfile.
Tudo
gravado para a posteridade. Agora, 21 anos depois, o nosso Steven Spielberg
relançou no YouTube a sua obra, e todos, com exceção dos enviados especiais à outra
dimensão, pudemos apreciá-la em nossos monitores. Foi um choque de espanto e de
saudade. Como é desconcertante a gente se ver no espelho do tempo, com gestos,
movimentos e aquele rosto familiar que os anos insistem em redesenhar!
Entre
risos fartos e discretas lágrimas, vimos colegas que perderam cabelo e ganharam
peso nessas duas décadas, outros que incrivelmente rejuvenesceram e também
aqueles que se despediram sem saber – e sem que soubéssemos – na despretensiosa
filmagem. Como tudo passa rápido e hoje os recursos tecnológicos são
abundantes, principalmente no que se refere à captação de imagens, fica até difícil
de explicar à garotada por que nos emocionamos com uma simples visão do pretérito
de nossas existências.
Um
dia, lá no ponto futuro, eles vão entender.
Ainda
mais agora, que a holografia está ressuscitando ídolos desaparecidos e
colocando-os no palco em três dimensões, como se ainda estivessem entre nós. A
tecnologia aperfeiçoa o espelho do tempo e dá vida ao passado, tornando um
pouco mais consistente a ilusão de que um dia viveremos para sempre.
Nossas
imagens, agora circulando pelo mundo virtual, talvez já estejam condenadas à eternidade.
E devemos essa à persistência do nosso cinegrafista amador, que não ligou para
constrangimentos e caras feias, levando o seu trabalho até o final. Precisamos,
pelo menos, filmá-lo, pois naquele dia especial de junho ele estava escondido
atrás de sua câmera e não se apresentou para a posteridade.
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