11
de junho de 2012 | N° 17097
L.
F. VERISSIMO
A sede
chinesa
Paris
– Antes eram só japoneses, hoje é difícil distinguir entre as etnias orientais
que fazem fila para entrar na Vuitton e outras lojas caras de Paris, mas a
maioria é certamente chinesa. O mercado do luxo não sente a crise em nenhuma
circunstância, mas chineses com dinheiro estão movimentando o setor acima do normal.
Os
chineses estão comprando a França, ou pelo menos aquela França que a gente só
vislumbra nas vitrines das lojas de nome a na propaganda das grandes grifes, no
maravilhoso mundo dos recursos ilimitados.
E o
que não podem levar para casa, os chineses compram e deixam por aqui. Por
exemplo: vinhedos. Há dias li no “Le Monde”que mais de vinte “chateaux” da
grande região vinícola de Bordeaux pertencem hoje a chineses, entre
proprietários privados e consórcios.
Nada
muda nos métodos de produção ou, imagino, no pessoal dos “chateaux”, os
chineses apenas passam a importar vinhos deles mesmos. A sede de vinho é
tamanha na China que um dos problemas no seu comércio com produtores franceses
era a falsificação.
Há
alguns anos, descobriram que tinham sido vendidas mais garrafas de Chateau
Lafite-Rothschild 1982 na China do que produzidas na França. A partir de 2008,
os chineses começaram a comprar seus próprios “chateaux”. Segundo o “Le Monde”,
além das compras já feitas, existem mais umas quinze sendo negociadas.
É
conhecida a história do enólogo francês contratado para estabelecer uma
indústria de vinhos na Califórnia. O francês orientou todo o processo, desde a
compra e preparação da terra até a escolha das vinhas e o método de plantio e
colheita e armazenamento, e quando completou seu trabalho e a Califórnia estava
tecnicamente preparada para fazer um vinho igual ao francês, o enólogo
declarou:
–
Pronto, agora é só esperar 300 anos.
A
história é inventada, claro. A Califórnia demorou um pouco, mas não precisou
esperar 300 anos para fazer um vinho respeitável. Mas mais práticos estão sendo
os chineses. Compram logo os 300 anos.
BRANQUEADA
Era
um amistoso Brasil x França, no Estade de France. O Reali Junior estava do meu
lado e me chamou a atenção: fora o goleiro, todos os jogadores do time francês
em campo eram negros. O atual treinador da França (chamado Blanc) deu uma
entrevista controvertida quando assumiu, meio que sugerindo que a proporção
étnica ia mudar.
Coincidência
ou consequência das persistentes tensões raciais na França, a seleção francesa
que participa do atual campeonato europeu sofreu uma branqueada generalizada.
Prefiro pensar que foi coincidência. O mercado do luxo não sente a crise em
nenhuma circunstância.
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