24
de junho de 2012 | N° 17110
VERISSIMO
Macarronada
Helena
e Marcos decidiram se casar. Helena avisou a família e ouviu uma queixa do avô.
– Eu
não conheço o moço. Em seguida o avô se lembrou dos tempos em que estamos
vivendo e emendou:
–
Suponho que seja um moço. – É, nono. É homem. Vai ser um casamento tradicional.
–
Mas eu nem conheço o moço!
Combinaram
que haveria um jantar para o avô conhecer o moço. E mais: o nono cozinharia.
Faria a sua elogiada macarronada com molho de ragu secreto. A macarronada era
elogiada pela família para agradar o velho, pois o ragu era intragável.
Desconfiavam que o ingrediente secreto fosse grapa. Felizmente, o velho só a
fazia a macarronada para ocasiões especiais. Como um jantar para conhecer o
moço que casaria com sua neta.
–
Não deixe de elogiar a macarronada dele – instruiu Helena.
–
Certo. – Fale alto porque ele está ficando surdo.
–
Tá. – E não fale em política.
O
velho admirava o Mussolini. Dissessem o que dissessem dele, Mussolini trouxera
ordem e progresso à Itália. Só Mussolini conseguira que os trens italianos
andassem no horário. O Brasil precisava de alguém como o Mussolini. O mundo
precisava de muitos Mussolinis. – Vou declarar que eu sou fascista desde
pequeno – propôs Marcos.
–
Não precisa tanto. Só não toca no assunto. – Certo.
–
Lembre-se: elogiar a macarronada, falar alto e não tocar em política. –
Perfeito.
Mas
Marcos sentou-se para o jantar nervoso. Não conseguia decifrar o olhar com que
o velho o examinava. Aprovação, desaprovação, desconfiança? O velho não falava.
Quando chegou a macarronada, Marcos se sentiu na obrigação de dizer alguma
coisa.
–
Ah! – disse. – A famosa macarronada com o molho secreto. Sua neta me falou a
respeito.
–
Quem? – disse o velho. – Sua neta, Helena.
O
velho olhou em volta da mesa como se pedisse socorro. O que aquele moço estava
dizendo? Marcos, cada vez mais nervoso, falou mais alto.
– O
molho secreto! Maravilhoso! Ainda não provei, mas só a cor...
–
Ahn – fez o velho. – Vermelho. Você gosta de vermelho? – Não! Não! E tem
mais...
Marcos
estava tomado de uma espécie de frenesi. Quase gritou:
– Eu
acho que o que este país precisa é de alguém que faça os trens andarem no
horário!
O
velho sorriu. Gostara do rapaz. Fez questão que ele repetisse a macarronada com
molho de ragu secreto. E o ragu estava pior do que nunca.
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