13
de junho de 2012 | N° 17099
JOSÉ
PEDRO GOULART
Kleber Karamázov
É hoje.
Finalmente uma fresta na história, uma chance. O Grêmio tem a oportunidade de
se livrar de um carma, se valer do destino que lhe deu uma mãozinha e
aproveitar a sorte de justamente ter um jogo decisivo que pôs na sua frente a
efígie bigoduda que tanto o tem assombrado nos últimos anos. A figura do pai
imperativo e autoritário se tornou algoz do rumo tricolor.
Já foram
feitas as homenagens devidas, já se chorou feito viúva, mas ainda falta um
grande ato de libertação para que se inaugure um novo ciclo de vitórias e títulos.
O Grêmio precisa cometer um parricídio: matar o Felipão! Na bola, claro, que
esse é um crime esportivo, simbólico, um ato de libertação psicanalítica.
Ao
crer na paternidade das glórias das épicas batalhas dos anos 1990, os torcedores
tricolores se tornaram filhos e, de uma certa forma, reféns do estilo Felipão. Passaram
a nutrir uma espécie de culpa de vencer. Como se fosse pecado prosseguir sem o
tutor. Isso apesar de o próprio pai ter-se bandeado e constituído outras famílias
longe daqui.
E não
é de um nobre que precisamos, um príncipe, um Hamlet, um sujeito a prantear um
fantasma, vagando à meia-noite, chorando pela traição. Chega de dramas
existenciais. Chega de questão. De ser ou não ser. O Grêmio precisa ser e ponto.
E também não se trata de Édipo, que essa história não tem mãe. Mas tem romance,
isso tem, e é com a torcida.
Na
verdade, tratemos de achar um herdeiro da linhagem de um dos Irmãos Karamazov,
o maior romance de todos, segundo Freud (só pra deixar claro a quem estamos
recorrendo para resolver nossas questões de divã).
Na
história, o filho mata o pai, entre outras razões, porque este disputa a noiva
do irmão. É ciúmes, é posse. Isso mesmo, é o time quem possui a torcida. Não a
sombra, o espectro do pai. Resgatar o amor entre o clube e a torcida, portanto,
se faz necessário a partir de um contrato, ou seja, um título.
Dostoiévski,
autor da trama em questão, sujeito que, a propósito, era frequentemente visto,
por volta de 1878, com a camiseta gremista desafiando a repressão na Praça não
por acaso Vermelha enquanto escrevia, colocou, nas palavras de Kleber Karamázov
(ou Ivan, não lembro bem), o seguinte mantra tricolor: “O amor reina sobre a
terra unicamente pela crença das pessoas na sua imortalidade.
Se
se destrói no homem a fé na sua imortalidade, não somente o amor secará nele,
mas também a força de continuar vivendo”. Esse Dostoiévski... Maior brother,
sabia tudo o velho gremistão. Vamos lá, Kleber, faz o crime.
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