sábado, 23 de junho de 2012



24 de junho de 2012 | N° 17110
O CÓDIGO DAVID

Mistérios de São João

Dia 24 de junho, o Dia de São João, é dia de vestir camisa xadrez. Isso sempre me intrigou. O que a camisa xadrez tem a ver com o pio homenageado? Ainda era criança quando essa dúvida primacial levou-me a pesquisar a respeito do santo.

Primeiro, achava que o João em questão fosse o apóstolo preferido de Jesus, o homem para quem, do alto da cruz, Jesus olhou, dizendo para Maria: “Mulher, eis teu filho”. Aquele que, no fim da vida, por volta do ano 100, escreveu o enigmático e poderoso livro do Apocalipse.

Tenho simpatia por esse João. Nem tanto pelo conteúdo... bem... apocalíptico da sua obra, mas pelo estilo. Um cara que escreve “Ide, e derramai sobre a Terra as sete taças da ira de Deus!”, esse cara tem verve, entende? Ele escreve com as entranhas. Portanto, torcia que o grande santo de junho fosse esse João. Não é. É o Batista, o primo de Jesus, que teve a cabeça separada do corpo devido a uma ondulante dança da jovem e, suponho, sedutora Salomé.

Certo. Investiguei acerca do Batista e não encontrei vestígios das razões da camisa xadrez. Hum. Entenda: hoje em dia, as pessoas até estão usando camisa xadrez impunemente, mas houve um tempo em que era brega.

Tecido xadrez, só em toalha de cantina italiana. Alguém dirá que a Festa de São João é típica de áreas rurais, onde se usa camisa xadrez. Certo. Agora pense: todo o resto do aparato rural da festa é compreensível. Pinhão, quentão, pipoca e amendoim são acepipes de inverno.

A fogueira é por causa do frio. As botas são usadas no campo como proteção contra os animais rastejantes e o chapéu de palha como proteção contra o sol escaldante. Mas por que a camisa tem que ser xadrez??? Por que o homem do Interior, seja das franjas do São Francisco ou do Mississipi, tem de usar camisa xadrez? Respostas para este e-mail.

Dádiva do inverno

Schimitão decidiu tomar um chocolate quente na loja de conveniências do posto, para atenuar o frio da primeira semana de inverno. Quando o segundo gole desceu-lhe garganta abaixo, viu a cena. O casal estava parado de pé, ambos encostados na traseira de um carro. Mantinham-se abraçados, o abraço não se desfazia. Schimitão podia ver os rostos dos dois através do vidro da loja. Notou a emoção dele e a resignação dela.

Ela não parecia aborrecida – dava a óbvia impressão de que aquele momento, para ela, significava menos do que para ele. Ele, sim, rondava a fronteira do pranto, respirava fundo, suspirava, tentava se conter. Era ele quem não a largava, que a apertava forte, que sustentava o abraço.

Depois de algum tempo, muito tempo, finalmente se apartaram. Olharam-se nos olhos. Os dele, marejados, quase desesperados; os dela, tristes, mas não muito. Schimitão entendeu que era uma despedida. De fato: o namorado, ou ex, abaixou a cabeça, virou-se e caminhou devagar para a porta do carro. Entrou. Sentou-se atrás do volante. Ela se afastou, dando passagem.

Ele arrancou, olhando-a sempre, detrás do para-brisa. Rodou uma grande meia-lua em direção à saída. Sumiu do posto. Schimitão acreditou ter visto uma lágrima despencando-lhe do queixo. Ela sorveu o ar gelado da rua e andou até seu próprio carro. Abriu a porta. Sentou-se. Foi então que Schimitão se levantou e saiu correndo da loja. Não podia perder aquela oportunidade. Alcançou-a quando o carro já estava saindo. Bateu no vidro da janela, pediu que ela abrisse. Ela abriu, com desconfiança.

– Desculpe! – disse o Schimitão. – Mas você parece triste, parece estar com frio no corpo e na alma, e eu queria oferecer um chocolate quente e uma conversa rápida para ajudar a aquecer os dois.

Ela ergueu uma sobrancelha. Encarou-o por alguns segundos. Pensou.

– Está bem – disse, afinal.

E desligou o carro.

O Schimitão pensou que o inverno é dadivoso para quem não perde oportunidades.

A Gabriela de Sônia ou de Juliana?

Traçamos árduo debate no Pretinho Básico desta semana a fim de responder:

Quem é a melhor Gabriela: Sônia Braga ou Juliana Paes?

Os saudosistas, como o Cagê e o Mister Pi, escolheram Sônia. Os demais ficaram com Juliana. Preferi assistir aos primeiros capítulos para me decidir. Foi ilustrativo. Ali estão as marcas de duas épocas. Juliana Paes é, digamos assim, mais possante do que Sônia Braga. Juliana é toda carnes duras e dentes brancos.

Sônia é pequena, perto dela. Sônia tem seios de laranja do céu e feições acabocladas. Mas a Gabriela de Sônia Braga transmitia inocência em sua sensualidade. Ela era maliciosa sem o saber. Era uma criança linda que perturbava os adultos, exatamente como Jorge Amado descreveu...

... A Gabriela de Juliana Paes, ao contrário, é ostensivamente provocante. Ela lança olhares de promessa para os homens. Ela atiça conscientemente. Não existe nenhuma sutileza nessa Gabriela, não há nada escondido sob sua morenice. Talvez porque Juliana Paes não saiba fazê-lo. Mas a maior tragédia da minissérie é o turco Nacib. A Globo escalou o ex-descamisado Humberto Martins para suceder ao craque Armando Bógus.

E Humberto Martins... ele simplesmente não consegue. Não há nenhuma profundidade em seu Nacib, ele não deixa nada subentendido. Não é culpa dele, nem de Juliana Paes. É culpa da época. Esta é uma época que não compreende subentendidos.

O que ler

Como fez grande sucesso a lista de livros que apresentei na edição passada, vou sugerir alguns outros a partir de hoje. Agora, de não ficção.

Mais do que pedir, SUPLICO a você que leia A História da Arte, do Professor Gombrich, um vienense que foi agraciado com o título de sir na Velha Álbion. Mas leia a edição ilustrada da LTC, um tão alentado quanto saboroso cartapácio muito fácil de deglutir. O Professor Gombrich também escreveu um comovente livro sobre a história do mundo para crianças, e esse também vale a pena ler.

Em A História da Arte, ele ensina que “não existem razões erradas para se gostar de uma obra de arte, mas existem razões erradas para não se gostar de uma obra de arte”. Sempre lembro disso quando deparo com alguma peça de arte contemporânea, e penso que, realmente, o Professor Gombrich era um homem tolerante.

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