24
de junho de 2012 | N° 17110
O
CÓDIGO DAVID
Mistérios de São
João
Dia
24 de junho, o Dia de São João, é dia de vestir camisa xadrez. Isso sempre me
intrigou. O que a camisa xadrez tem a ver com o pio homenageado? Ainda era
criança quando essa dúvida primacial levou-me a pesquisar a respeito do santo.
Primeiro,
achava que o João em questão fosse o apóstolo preferido de Jesus, o homem para
quem, do alto da cruz, Jesus olhou, dizendo para Maria: “Mulher, eis teu
filho”. Aquele que, no fim da vida, por volta do ano 100, escreveu o enigmático
e poderoso livro do Apocalipse.
Tenho
simpatia por esse João. Nem tanto pelo conteúdo... bem... apocalíptico da sua
obra, mas pelo estilo. Um cara que escreve “Ide, e derramai sobre a Terra as
sete taças da ira de Deus!”, esse cara tem verve, entende? Ele escreve com as
entranhas. Portanto, torcia que o grande santo de junho fosse esse João. Não é.
É o Batista, o primo de Jesus, que teve a cabeça separada do corpo devido a uma
ondulante dança da jovem e, suponho, sedutora Salomé.
Certo.
Investiguei acerca do Batista e não encontrei vestígios das razões da camisa
xadrez. Hum. Entenda: hoje em dia, as pessoas até estão usando camisa xadrez
impunemente, mas houve um tempo em que era brega.
Tecido
xadrez, só em toalha de cantina italiana. Alguém dirá que a Festa de São João é
típica de áreas rurais, onde se usa camisa xadrez. Certo. Agora pense: todo o
resto do aparato rural da festa é compreensível. Pinhão, quentão, pipoca e
amendoim são acepipes de inverno.
A
fogueira é por causa do frio. As botas são usadas no campo como proteção contra
os animais rastejantes e o chapéu de palha como proteção contra o sol
escaldante. Mas por que a camisa tem que ser xadrez??? Por que o homem do
Interior, seja das franjas do São Francisco ou do Mississipi, tem de usar
camisa xadrez? Respostas para este e-mail.
Dádiva
do inverno
Schimitão
decidiu tomar um chocolate quente na loja de conveniências do posto, para
atenuar o frio da primeira semana de inverno. Quando o segundo gole desceu-lhe
garganta abaixo, viu a cena. O casal estava parado de pé, ambos encostados na
traseira de um carro. Mantinham-se abraçados, o abraço não se desfazia.
Schimitão podia ver os rostos dos dois através do vidro da loja. Notou a emoção
dele e a resignação dela.
Ela
não parecia aborrecida – dava a óbvia impressão de que aquele momento, para
ela, significava menos do que para ele. Ele, sim, rondava a fronteira do
pranto, respirava fundo, suspirava, tentava se conter. Era ele quem não a
largava, que a apertava forte, que sustentava o abraço.
Depois
de algum tempo, muito tempo, finalmente se apartaram. Olharam-se nos olhos. Os
dele, marejados, quase desesperados; os dela, tristes, mas não muito. Schimitão
entendeu que era uma despedida. De fato: o namorado, ou ex, abaixou a cabeça,
virou-se e caminhou devagar para a porta do carro. Entrou. Sentou-se atrás do
volante. Ela se afastou, dando passagem.
Ele
arrancou, olhando-a sempre, detrás do para-brisa. Rodou uma grande meia-lua em
direção à saída. Sumiu do posto. Schimitão acreditou ter visto uma lágrima
despencando-lhe do queixo. Ela sorveu o ar gelado da rua e andou até seu
próprio carro. Abriu a porta. Sentou-se. Foi então que Schimitão se levantou e
saiu correndo da loja. Não podia perder aquela oportunidade. Alcançou-a quando
o carro já estava saindo. Bateu no vidro da janela, pediu que ela abrisse. Ela
abriu, com desconfiança.
–
Desculpe! – disse o Schimitão. – Mas você parece triste, parece estar com frio
no corpo e na alma, e eu queria oferecer um chocolate quente e uma conversa
rápida para ajudar a aquecer os dois.
Ela
ergueu uma sobrancelha. Encarou-o por alguns segundos. Pensou.
–
Está bem – disse, afinal.
E
desligou o carro.
O
Schimitão pensou que o inverno é dadivoso para quem não perde oportunidades.
A
Gabriela de Sônia ou de Juliana?
Traçamos
árduo debate no Pretinho Básico desta semana a fim de responder:
Quem
é a melhor Gabriela: Sônia Braga ou Juliana Paes?
Os
saudosistas, como o Cagê e o Mister Pi, escolheram Sônia. Os demais ficaram com
Juliana. Preferi assistir aos primeiros capítulos para me decidir. Foi
ilustrativo. Ali estão as marcas de duas épocas. Juliana Paes é, digamos assim,
mais possante do que Sônia Braga. Juliana é toda carnes duras e dentes brancos.
Sônia
é pequena, perto dela. Sônia tem seios de laranja do céu e feições acabocladas.
Mas a Gabriela de Sônia Braga transmitia inocência em sua sensualidade. Ela era
maliciosa sem o saber. Era uma criança linda que perturbava os adultos,
exatamente como Jorge Amado descreveu...
...
A Gabriela de Juliana Paes, ao contrário, é ostensivamente provocante. Ela
lança olhares de promessa para os homens. Ela atiça conscientemente. Não existe
nenhuma sutileza nessa Gabriela, não há nada escondido sob sua morenice. Talvez
porque Juliana Paes não saiba fazê-lo. Mas a maior tragédia da minissérie é o
turco Nacib. A Globo escalou o ex-descamisado Humberto Martins para suceder ao
craque Armando Bógus.
E
Humberto Martins... ele simplesmente não consegue. Não há nenhuma profundidade
em seu Nacib, ele não deixa nada subentendido. Não é culpa dele, nem de Juliana
Paes. É culpa da época. Esta é uma época que não compreende subentendidos.
O
que ler
Como
fez grande sucesso a lista de livros que apresentei na edição passada, vou
sugerir alguns outros a partir de hoje. Agora, de não ficção.
Mais
do que pedir, SUPLICO a você que leia A História da Arte, do Professor
Gombrich, um vienense que foi agraciado com o título de sir na Velha Álbion.
Mas leia a edição ilustrada da LTC, um tão alentado quanto saboroso cartapácio
muito fácil de deglutir. O Professor Gombrich também escreveu um comovente livro
sobre a história do mundo para crianças, e esse também vale a pena ler.
Em A
História da Arte, ele ensina que “não existem razões erradas para se gostar de
uma obra de arte, mas existem razões erradas para não se gostar de uma obra de
arte”. Sempre lembro disso quando deparo com alguma peça de arte contemporânea,
e penso que, realmente, o Professor Gombrich era um homem tolerante.
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