DANUZA LEÃO
No hotel Ritz
Ficou
a lembrança do fim de semana que passou no quarto mais bonito em que já dormiu
na vida
Foi
uma paixão como costumam -e devem- ser as paixões: intensa e breve.
A
primeira vez que se viram foi no Rio, e houve logo uma faísca. Para isso,
ajudou muito o fato de ele ser comprometido, digamos assim, e seu
comprometimento estar bem longe. Não demorou muito tempo para se apaixonarem,
mas nunca fizeram juras de amor eterno; viveram um louco amor durante duas
semanas, quando ela viajaria para Paris. Ele deu um jeito -sempre se dá, quando
se quer-, disse que ia encontrá-la.
Ela
chegou primeiro, para ter tempo de reconhecer a cidade, fazer o que as mulheres
mais gostam, umas comprinhas (o que não é possível, com um homem perto), e ir a
um bom cabeleireiro; quando ele chegou -hotéis separados, devido às
circunstâncias-, ela estava ainda mais apaixonada, e ele também. Qualquer
paixão passando por Paris só faz aumentar, claro.
Como
estavam fazendo a linha discreta, tomaram os devidos cuidado e não foram a
nenhum dos lugares a que estavam habituados, para não correrem o risco de
encontrar amigos.
Decidiram
ir ao restaurante da Torre Eiffel, o Jules Verne, onde só vão turistas, eles
achavam; lá não encontrariam nenhum conhecido, justamente por ser lugar de
turista. Mas ela, quando viu lá de cima as luzes da cidade se acenderem -como
era maio, só anoiteceu por volta das nove-, quase se emocionou.
Já
estava combinado que passariam oito dias juntos, não mais, e o romance estava
tão bom, mas tão bom, que no terceiro dia ele fez uma proposta: que ela
escolhesse qualquer lugar do mundo para passarem o que seria o último fim de
semana juntos. Mais romântico, impossível.
Ela
pensou, pensou, pensou. Marrakech? Uma ilha grega? Como mulher vivida e
prática, imaginou o tempo que levaria um táxi do centro de Paris até o
aeroporto, o trânsito, o check-in, a chegada em outro país, desarrumar a mala,
mandar passar o vestido para jantar, todas essas coisas. Sugeriu então ficarem
em Paris e passarem o fim de semana no Hotel Ritz, o mais emblemático e luxuoso
da cidade, onde ela não havia, jamais, se hospedado.
Era
primavera; ele passou de táxi para buscá-la, o quarto onde dormiriam juntos
pela primeira vez era lindo, com o teto todo pintado, com a janela dando para a
Place Vendôme; se esqueceram de sair para jantar, pediram champanhe e cerejas e
brindaram à vida e ao amor.
Sabiam
que esses seriam os últimos dias que passariam juntos e, sabiamente, não
disseram uma só palavra sobre isso, nem falaram sobre se reverem.
Já
sabiam que seria inútil e impossível ir adiante, que a graça daquela paixão era
ser perfeita até o último segundo sem um só desgaste, um só momento ruim, e nem
uma vez foi pronunciada a palavra futuro, já que ele não ia acontecer mesmo.
Ela pegaria um avião na segunda às 10h, ele pegaria o dele -para outro destino-
às 2h da tarde.
Nessa
manhã, ela fez tudo para que ele não percebesse, em nenhum momento, que estava
um pouco triste, mas ele percebeu. Ela se deu conta disso quando entrou no
táxi, olhou para a janela do quarto e viu que ele estava na sacada, olhando ela
sair de sua vida para sempre. Se acenaram e nunca mais se viram.
Os
anos passaram, mas ficou a lembrança; a lembrança do fim de semana que passou
no quarto mais bonito em que já dormiu na vida.
E
hoje pensa -acha- que todas as paixões deveriam ser assim.
danuza.leao@uol.com.br
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