Jaime
Cimenti
Epopeia às avessas num clássico de
Lobo Antunes
António
Lobo Antunes sempre rivalizou, e ainda rivaliza, com José Saramago na cena da literatura de língua
portuguesa. Quem é o maior, o melhor? Saramago levou o Prêmio Nobel de
Literatura de 1998 e Lobo Antunes segue forte candidato. Ele nasceu em 1942 em
Lisboa e é formado em Medicina com especialização em Psiquiatria.
Serviu
como médico do Exército português em Angola nos últimos anos da guerra naquele
país, entre 1970 e 1973. Autor de obra extensa, de repercussão mundial, Lobo
Antunes já recebeu prêmios literários importantíssimos, como o Camões, em 2007,
e o Juan Rulfo, em 2008.
Os
cus de Judas; Memória de Elefante e O meu nome é Legião são algumas de suas
obras mais conhecidas e editadas no Brasil pela Objetiva/Alfaguara, mesma casa
editorial que editou no Brasil o romance As naus, que vem sendo considerado um
clássico na obra de Lobo Antunes e um dos livros mais originais da ficção
contemporânea.
Na
narrativa magistral, o autor subverte as formas narrativas tradicionais, sobrepõe
tempos e figuras históricas para narrar o retorno dos heróis e navegadores
portugueses a Lisboa (denominada Lixboa na narrativa).
Em
plenos anos 1970, desiludidos com o fim da malfadada colonização africana,
Pedro Álvares Cabral, Luis de Camões, Diogo Cão, Vasco da Gama e até Miguel de
Cervantes retornam a Portugal na forma de pessoas comuns, com seus vícios e
fraquezas, numa espécie de epopeia às avessas.
O
escritor literalmente vira a História de cabeça para baixo e mostra uma visão
inédita sobre a colonização e a descolonização. Antunes reconta as vidas dos
heróis na África, com enfoques diferentes em todos os sentidos das versões
consagradas, e os coloca, ao longo da vigorosa narrativa, como jogadores de
cartas, beberrões e aproveitadores.
Passado
e presente no consciente português, conflitos e dilemas da sociedade
portuguesa, colonização e descolonização e outras questões estão na ficção
elaborada de Lobo Antunes. As desventuras trágicas, por vezes burlescas, dos “heróis”
narradas de modo inovador, como foi feito por Lobo Antunes, revelam a imensa
originalidade da obra e mostram que As naus realmente merece lugar de destaque
na obra do escritor que ganhou, há muito, justo reconhecimento mundial.
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