Carlos Heitor
Cony
"C'est la vie"
RIO DE JANEIRO - "Política é
a arte de engolir sapos." A frase pode ser alterada, trocando-se a palavra
"arte" por outra: "necessidade".
E não se aplica apenas aos
profissionais que se dedicam e, em alguns casos, se beneficiam com a obrigação
de comer batráquios, mas àqueles que torcem e chegam a se entusiasmar com os
artistas ou com os necessitados de se alimentar com um produto que ainda não
faz parte da cesta básica.
A foto de Lula na casa de Maluf,
a cordialidade do encontro de dois sobas da nossa vida pública e o acordo para
eleger o novo prefeito de São Paulo fizeram clamar até "os paralelepípedos
da rua Lins de Vasconcelos" -essa imagem era usada pelo Nelson Rodrigues.
Mas o estupor de tanta gente não
foi inédito. Lembro outra foto que causou indignação geral. Preso durante anos
por Getúlio Vargas, o líder comunista Luís Carlos Prestes, logo que saiu de uma
longa prisão, compareceu e foi fotografado ao lado do ditador num comício, aqui
no Rio. Durante a Segunda Guerra Mundial, os democratas Roosevelt e Churchill
saíram numa foto ao lado do ditador Stálin, todos num mesmo barco e com a mesma
cordialidade.
Três notórios adversários -JK,
Jango e Carlos Lacerda-, ao se aliarem numa frente ampla contra o regime
militar, se abraçaram em Lisboa e em Montevidéu, esquecendo os insultos e até
mesmo as infâmias que trocaram entre si.
"C'est la vie"
-explicou uma prostituta francesa ao freguês que lhe perguntara por que exercia
a profissão mais antiga do mundo.
Embora pessimista integral, ainda
espero que os dois mais antigos adversários do mundo -Deus e Satanás-, depois
de séculos em que danaram tantas almas, se reconciliem e tirem uma foto se
abraçando, numa capa em quatro cores da revista "Caras".
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