sábado, 16 de junho de 2012



17 de junho de 2012 | N° 17103
TURMA DE 2012

Nova geração contra o crime

Grupo de alunos do curso de agentes da Polícia Civil dá prioridade à tecnologia em lugar da força. No final de 2012, o Rio Grande do Sul receberá uma fornada de 782 novos policiais civis. Quando eles forem incorporados, a Polícia Civil ficará com 6.059 integrantes, seu maior efetivo em 17 anos. E um dos maiores das últimas três décadas.

E quem são esses novatos? A valentia continua admirada, o pé na porta ainda pode ser solução numa emergência, mas os policiais da geração atual dão prioridade a outros métodos. Computador, lupa, pós químicos e uso da psicologia nos interrogatórios cada vez mais substituem as armas e os músculos.

Tecnologia é tudo na moderna investigação policial. E isso começa pela Academia, onde os candidatos a agente receberão mil horas de aula. Na Delegacia Experimental, uma sala que reproduz o ambiente onde os futuros policiais trabalharão, a média é de quase um computador por aluno, com acesso à internet e aos bancos de dados da segurança.

Os alunos aprendem a preencher um boletim de ocorrência, a elaborar um inquérito, a checar antecedentes de um suspeito. Com direito a pesquisar endereços, contas etc, como acontece numa delegacia real.

humberto.trezzi@zerohora.com.br

Academia do futuro

- Formação e idiomas – Desde 1997, todos os policiais civis têm de ter curso superior. Nos anos 1980, a exigência era feita apenas aos delegados, que tinham de ser formados em Direito. E, nas décadas anteriores, nem aos delegados. Em alguns casos eram admitidos delegados não formados, apelidados calças-curtas. Muitos dos jovens alunos trazem seu notebook às aulas e falam inglês, além de espanhol.

- O peso da perícia – Os alunos são conduzidos aos prédios do Departamento Médico Legal (DML) para aulas de anatomia. Vão aos laboratórios do Instituto-geral de Perícias para adquirir noções de balística, isolamento de local de crime, recolhimento de provas.

- Cidadania e Direitos Humanos – Algumas disciplinas da Academia de Polícia Civil são novidade, se comparadas com o que era ministrado há algumas décadas. A ideia é mostrar aos policiais que até suspeitos de crime são cidadãos, com direitos a serem respeitados. Não por acaso, uma das matérias que os novatos aprendem, ministrada pelo ex-chefe de Polícia Pedro Rodrigues, chama-se Ética e Cidadania: formando um Policial Cidadão. São temas recomendados pelo Ministério da Justiça a todas as polícias.

- Seguindo a cartilha legal – Muita gente não sabe, até por não ser nascida naquela época, mas até 1988 policiais podiam entrar na casa de suspeitos sem mandado judicial. A ordem de busca e apreensão era preenchida pelo próprio delegado. Na academia, os novos alunos aprendem que, sem mandado judicial, o serviço cai por terra. Entrar sem autorização só mesmo em casos de risco de vida, flagrante ou para evitar um crime.

- Ambiente mais feminino – Há três décadas, mulher na Polícia Civil era tão raro que virava celebridade e motivo de conversa. No atual concurso para agente, quase a metade dos alunos (41,3%) é mulher. Elas não dispensam batom, mas não fogem das aulas de judô e adoram o curso de tiro.

- A polícia mudou – Ainda é possível encontrar policiais de bombacha e alpargata derrubando uma porta, como ocorreu recentemente numa operação em Viamão, mas a regra agora é uniforme, escudo protetor, muito planejamento e menos sangue possível. Qualificação, mas ainda falta quantidade. Embora grande, o novo contingente nem de longe supre a necessidade de policiais civis, cujo número deveria ser o dobro do atual.

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