PASQUALE CIPRO NETO
.... mas nada para os
bombeiros
Ainda
somos surpreendidos por casos que comprovam que o "(Des)Acordo" é mesmo
uma bobajada
O
LEITOR habitual deste espaço sabe que não "frequento" (nem tenho) Twitter,
Facebook etc. Foi um dos meus filhos quem me cantou a bola sobre uma frase
postada há duas ou três semanas por bombeiros no Facebook (ou terá sido no
Twitter?). Era algo como "Acidente na rua X, acidente na rua Y, mas nada
para os bombeiros".
Como
entender esse "para" pós-(Des)Acordo Ortográfico? Como verbo? Ou como
preposição? Os mais afoitos talvez digam que esse "para" é verbo, já que,
depois que se apresenta uma sequência de atividades para as quais normalmente
se convocam os bombeiros, diz-se que nada é capaz de detê-los, ou seja, nada é obstáculo,
nada para (interrompe) os bombeiros.
O
problema é que, salvo engano, o contexto era irônico. Tratava-se de uma queixa,
uma reclamação, em que os bombeiros diziam que a carga de trabalho é pesada,
mas, em contrapartida, nada se dá ou oferece a eles (para eles).
O
fato é que, passados já três anos e meio da entrada em vigor (no Brasil, só no
Brasil) do "(Des)Acordo Ortográfico", ainda somos surpreendidos por
casos e casos em que não pensáramos e que nos provam que essa bobajada é mesmo
uma grande bobajada, um delírio sem fim. Quem terá sido o gênio a decretar que é
desnecessário diferenciar com um acento a forma verbal "para" da
preposição "para", sob o tosco argumento de que o contexto define e
deixa claro para o leitor o valor do termo em questão? Quem terá sido, Santo
Deus? E o contexto "deixa claro" quando? De imediato? Ou só depois da
leitura de linhas e linhas?
Bem,
caro leitor, pela segunda vez no ano (creio) volto a tratar de mais uma das
tantas mazelas do "(Des)Acordo Ortográfico" porque quero que você saiba
que há e haverá pedras no caminho dos "acordistas". Explico: estão em
curso ações judiciais contra o bendito "(Des)Acordo".
Uma
dessas ações, que está na 9ª Vara da Justiça Federal em Brasília, é do
professor Ernani Pimentel, que pede "o adiamento do prazo final de
implantação do Acordo Ortográfico no Brasil, até que o Congresso Nacional se
pronuncie sobre as alterações feitas ao Acordo pela ABL. O Decreto Presidencial
que promulga o Acordo reza que 'São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional
quaisquer atos que possam resultar em revisão do referido Acordo', o que foi
desrespeitado pela ABL".
Pimentel
diz que uma segunda ação questionará "as alterações propostas e a maneira
antidemocrática e anticientífica das decisões". No site www.acordarmelhor.com.br
há mais informações.
Faço
aqui uma paródia do que Chico Buarque sempre diz sobre a relação dele com a
ditadura militar. "A ditadura encheu muito o meu saco, mas eu também enchi
bastante o saco deles", diz o grande Mestre. A relação que alguns colegas
e eu temos com o "(Des)Acordo" é meio parecida com a que Chico teve
com a ditadura.
O
percurso do "(Des)Acordo Ortográfico" no Brasil, além de ditatorial,
foi irresponsável, infantil e infantiloide -uma perfeita birra de criança, que
quer porque quer o que quer. No Senado, em abril, Pimentel e eu pudemos expor
todos os absurdos registrados nesse percurso.
Agora
é esperar para ver o que farão a Justiça e o Congresso. É isso.
inculta@uol.com.br
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