A Rio+20 começa com uma certeza: temos
de investir hoje para que exista um amanhã
Edição
Verde: O desafio de garantir riquezas e recursos para as próximas gerações
E
uma dúvida: como fazer isso em tempos de crise?
ALEXANDRE
MANSUR. COM JULIANA ELIAS
A
VOZ DAS RUAS Ativistas ambientais durante um protesto no Rio de Janeiro. Os
eventos paralelos, promovidos por ONGs e empresas, são o ponto forte da Rio+20
(Foto: Cecilia Acioli/Folhapress)
A
conferência Rio+20 não poderia ocorrer num momento mais oportuno – e ao mesmo
tempo mais inoportuno. Oportuno porque, nos 20 anos que se passaram desde a Rio
92, a última conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e
desenvolvimento, duas certezas se sedimentaram. A primeira: é necessário fazer
algo urgente em relação aos recursos planetários para que a atividade econômica
do futuro não fique comprometida.
A
segunda: nos últimos anos, criou-se tecnologia suficiente para evitar uma catástrofe
ambiental. As empresas têm instrumentos para tratar a água, diminuir a emissão
de poluentes e reciclar materiais. Cresce no mundo todo o uso de fontes de
energias renováveis, como solar ou eólica. Mas tudo isso custa dinheiro. Surge,
aí, a pergunta: quem pagará a conta?
É por
isso que a Rio+20 – o novo encontro organizado pela ONU, que reúne líderes ou
representantes de 180 países no Rio de Janeiro entre os dias 13 e 22 – não
poderia ocorrer num momento mais inoportuno. Estados Unidos e Europa estão mergulhados
na maior crise econômica desde os anos 1930. O tamanho das dívidas e a retração
econômica geraram desemprego recorde nos EUA e ameaçam a própria sobrevivência
da moeda europeia.
Premidos
por soluções imediatas para sair do buraco neste ano, há pouca disposição política
para pensar em investimentos que melhorarão a vida das próximas gerações. No
ano passado, a população do planeta alcançou 7 bilhões de pessoas. Está cada
vez mais evidente que não é possível dar riqueza e conforto material para toda
essa gente, nos padrões atuais de consumo e com as tecnologias correntes de
produção. Nestes últimos 20 anos, os cientistas que estudaram o tema chegaram a
conclusões aterradoras:
· Em
14 anos, dois terços da humanidade viverão em lugares com carência de água,
segundo o Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma).
· A
atividade humana está alterando o clima da Terra – sim, apesar de alguns
pseudocientistas insistirem em propagar bravatas, é consenso entre todos os
pesquisadores sérios que a temperatura média da Terra está subindo graças à emissão
de gases poluentes. A persistir nesse ritmo, é possível que, no final deste século,
ela tenha aumentado 4 graus Celsius. Tamanha alta bastaria para desmanchar a
cadeia produtiva de alimentos, inundar cidades e agravar eventos como secas e
inundações.
· Num levantamento encomendado pelo governo
britânico, o economista Nicholas Stern, da London School of Economics e da
Universidade de Leeds, afirmou que o aquecimento custaria 20% do PIB global por
volta de 2050, se nada fosse feito.
Uma
amostra disso seria a profusão de eventos semelhantes ao Furacão Katrina, que
causou 1.836 mortos e prejuízos de US$ 81 bilhões em 2005 nos EUA. Ou à sequência
de sete chuvas recordes no Brasil entre 2008 e 2011, que culminou com a tragédia
na região serrana do Rio, com centenas de mortos.
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