segunda-feira, 11 de junho de 2012



11 de junho de 2012 | N° 17097
KLEDIR RAMIL

Diário de bordo – chegando em casa


Minha mulher me recebeu com um pé atrás. Saí para um fim de semana na Ilha Grande, na casa da minha irmã, e voltei vários dias depois, num avião vindo de Miami, queimadão de praia, com uma bermuda nova da Gap.

Tentei explicar o inexplicável, mas ela estava irredutível. Tive que pedir ajuda para os universitários e chamei meu amigo do pandeiro.

– Aí, madame, a parada é a seguinte. A gente tomou uns goró e, quando viu, tava em Miami...

Puxei o cara num canto.

– Ô, Zé Mané, assim você não tá me ajudando.

– Deixa comigo. Tu livrou a minha cara, vou livrar a tua.

E voltou à carga.

– A madame lembra daquelas pessoas que dormiram dentro do Opala, numa estrada do Brasil, e acordaram no México? É por aí. Minha teoria é que a gente foi abeduzido (sic) por seres extraterráqueos.

Minha mulher fez cara de quem comeu e não gostou. Dispensei meu “universitário” e resolvi desenvolver minha própria defesa.

– Meu amor, esse sujeito é maluco. E, ainda por cima, bebe. Não teve disco voador, não teve ET. O que aconteceu foi essa aventura inacreditável em alto-mar, que quase virou uma tragédia.

Liguei pra minha irmã e pedi socorro. A ajuda foi providencial. Ela confirmou minha versão: a viagem, o churrasco, a quantidade de cerveja consumida, o passeio de barco, o grupo de pagode, a trilha pelo mato e o sumiço da lancha. E mais: contou que tem uma cópia do B.O., o boletim de ocorrência, com o depoimento do meu cunhado na delegacia de Angra.

Como minha mulher sabe que eu não bebo, aceitou a história como verdadeira, por mais incrível que possa parecer.

Foi aí que tive a ideia de vender os direitos de filmagem. Chamei minha filha que trabalha com cinema e começamos a esboçar um roteiro. Quando eu sugeri o George Clooney para fazer o papel principal, ela caiu na risada e soltou um “hellooo!!”. Virou pra mãe e falou: “Aí... sem noção total”.

Esses jovens de hoje não têm respeito pelos mais velhos. Estou chegando de uma situação traumática, meu clínico geral me recomendou repouso e muito líquido... E não me levam a sério.

Desisti do filme. Resolvi terminar a música que estava compondo e mandar pro Paul Simon. Quem sabe ele grava?

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