quarta-feira, 13 de junho de 2012



13 de junho de 2012 | N° 17099
PAULO SANT’ANA

A fingidora

Tenho uma tese sobre essa esposa que em São Paulo matou e esquartejou o marido de origem japonesa: ela tinha sido garota de programa antes de casar-se com o japonês e, pela minha tese, continuou prostituta depois que se casou com ele.

Explico e provo a minha tese: ela matou o marido no auge de uma rusga que teve com ele, briga verbal que aconteceu porque ela recebeu, de um detetive particular que contratara, fotografias de traição do marido com outra.

Durante a quizília, ela matou o marido com um tiro de pistola.

A seguir, ela, meticulosamente, já que estudara anatomia, esperou oito horas para que o sangue do cadáver coagulasse. Planejava esquartejá-lo, e, com o sangue coagulado, sua tarefa seria mais fácil. Lógico: esquartejar um cadáver com sangue líquido é uma mão de obra estupenda, além de sujar toda a casa e deixar vestígios para a polícia.

Colocou as pernas, os braços, o tronco, a cabeça e as vísceras do cadáver em vários sacos, enfiou-os em três sacolas de couro e foi despejá-los quilômetros adiante, num mato à beira de estrada.

Então: por que eu afirmo que ela continuou com a mente de uma prostituta, mesmo depois de ter-se casado com o japonês?

Porque ela esquartejou o cadáver por não poder carregá-lo fora das sacolas e para que ficasse parecendo à polícia que seu marido tinha desaparecido e sido assassinado por presumíveis sequestradores.

Por que ela bolou isso? Para receber a herança que lhe iria deixar o marido morto.

Ou seja, ela o esquartejou por dinheiro. O japonês era riquíssimo e sua fortuna seria herdada por ela e pela filha de um ano do casal.

Mesmo casada, mesmo assassina, essa mulher só queria o dinheiro do marido. A cena de ciúme que ela fez, que originou a briga entre o casal e o assassinato, foi elucidativa: ela tinha ciúme não porque seu marido a estava traindo, mas porque isso podia significar que ele se separasse dela e fosse se juntar à nova amante, com o que ela imaginou que perderia não o marido, mas o provedor dela. Estava lhe fugindo a fortuna do marido. Um ciúme patrimonial.

E quando passou na cabeça dela a hipótese de que ele a largasse para ir viver com a nova amante, ela pensou: “Meu Deus, isso significa que perderei o direito que até ontem eu tinha de ir aos shoppings todos os dias!”.

Matou ainda com mentalidade de prostituta, portanto, pensando somente no dinheiro.

E, para terminar minha coluna, conserto os mais célebres versos do português Fernando Pessoa, adaptando-os à circunstância que me interessa nesta coluna, isto é, a condição de prostituta:

A prostituta é uma fingidora,

Finge tão completamente

Que finge sentir o prazer

Que deveras sente.

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