Eliane
Cantanhêde
Isolamento calculado
BRASÍLIA - A Argentina está na
presidência do Mercosul, será a anfitriã da reunião do bloco com associados na
próxima sexta e aproveita a crise no Paraguai para sair em desabalada carreira
em busca de protagonismo regional.
Cristina Kirchner tem sido cada
vez mais chavista e menos lulista (ou seja, mais radical, menos negociadora), e
adere ao eixo Venezuela-Equador-Bolívia justamente quando ele parece mais
vulnerável. Confronta a imprensa, bate de frente com a Espanha, assusta os já
parcos investimentos internacionais. Mas Cristina não está com essa bola toda:
a economia vai mal, as greves pipocam.
O Brasil corre atrás na crise do
Paraguai, tentando uma "ação pedagógica", não uma declaração de
guerra: nem deixar a deposição de Lugo passar em branco, até para não estimular
golpismos por aí afora, nem asfixiar o país vizinho, já tão sofrido.
Enquanto os chavistas retiram
seus embaixadores de Assunção, e Chávez já corta o fornecimento de petróleo, o
Brasil chama o embaixador Eduardo Santos para consultas e adia qualquer sanção
prática para a reunião de sexta. Defende soluções conjuntas, não isoladas e
afoitas, como as venezuelanas.
Dilma não irá a Mendoza com ganas
de jogar o novo governo Federico Franco na lona, mas disposta a aplicar, além
da "ação pedagógica", um "isolamento calculado" até as
eleições de abril de 2013. Leia-se: ela quer um Paraguai isolado politicamente,
mas funcionando economicamente. Não só para preservar os paraguaios, mas
principalmente para garantir os interesses brasileiros no país -que não são
poucos.
Também pesa na cautela brasileira
o fato de as instituições paraguaias terem aprovado a deposição: o Congresso
votou de forma acachapante, Lugo aceitou no primeiro momento, a Suprema Corte
avalizou e a igreja abençoou. Quem, no Paraguai, está pedindo ingerência
externa para manter sua democracia?
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