sexta-feira, 29 de junho de 2012



29 de junho de 2012 | N° 17115
ARTIGOS - Sergio Lewin*

Helicópteros

O momento era de crise. Então, o líder propôs a inovadora ideia: por que não contratar helicópteros que do alto jogariam dinheiro sobre as principais capitais do país? Com os recursos, as pessoas fariam compras, movimentariam o comércio e a indústria, criando novos empregos e mais tributos.

O ciclo virtuoso geraria prosperidade e de quebra eles ganhariam as próximas eleições. O conselheiro mais velho discordou. A medida teria efeitos de curta duração, os problemas eram estruturais e precisavam ser atacados na raiz. Seus argumentos foram desprezados. A euforia causada pelos generosos helicópteros que sobrevoavam as cidades e os estádios lotados em dias de jogos importantes, aliada a um súbito aumento do consumo, garantiu-lhes a eleição.

Contudo, às vésperas do novo pleito eleitoral, poucos anos depois, a situação do país voltou a se agravar. O conselheiro então lembrou que sua posição, tão criticada quatro anos antes, agora se evidenciava correta. “Ao contrário”, disse o líder. “Nosso erro foi ter contratado um número pequeno de helicópteros. Desta vez será o dobro. E mais: reduziremos os juros, criaremos milhares de novos cargos públicos, injetaremos recursos nas empresas e ficaremos sócios das mais importantes.

Vamos mexer no câmbio e mostrar que na nossa moeda mandamos nós. Não pouparemos um centavo com o social.” O conselheiro ainda tentou argumentar que os helicópteros estavam jogando dinheiro fora, que necessário era melhorar a educação, a infraestrutura, o ambiente para fazer negócios.

Foi vencido novamente. Então, após 20 anos de um batalhão de helicópteros cobrindo o país de Norte a Sul com notas de um dinheiro cada vez mais desvalorizado, após a deterioração da educação, da indústria, do agravamento do desemprego, da falta de investimentos em pesquisa e tecnologia, o conselheiro sentiu que sua hora havia chegado.

Eles agora admitiam estar errados ou as coisas precisavam piorar ainda mais? “Errados, nós?!”, riu-se o líder. “Estamos há 20 anos no poder, nossos homens estão no comando dos ministérios, órgãos públicos, nos postos-chave do Judiciário, fundos de pensão, empresas públicas e privadas e ainda achas que estamos errados?”

Foi então que o conselheiro, já ancião, se deu conta de que seus pares nunca foram ingênuos ou despreparados, como chegara a supor. Estes dois atributos se aplicavam bem mais a ele próprio.

*ADVOGADO

Nenhum comentário: