14
de junho de 2012 | N° 17100
L.
F. VERISSIMO
A revanche
Paris
– No período entre as duas grandes guerras, era comum jovens aristocratas
ingleses participarem da repressão a movimentos populares e greves. Era uma
forma de entretenimento, naquela época e naquele mundo tão bem descritos nos
romances de Evelyn Waugh e outros: a luta de classes transformada em esporte
para os rapazes queimarem calorias e ajudarem a manter a ordem.
Não
surpreende que boa parte da aristocracia da ilha simpatizasse com o nazismo –
inclusive, suspeitava-se, o próprio rei – quando seu principal atrativo era o
de conter a expansão comunista. Num museu da II Guerra Mundial que visitamos em
Cherburg havia uma exposição de cartazes alemães dirigidos à população francesa
durante a ocupação, e o apelo de todos era ao medo do bolchevismo, que o
nazismo tinha vindo evitar.
Depois
daquele período entre as guerras, muita coisa mudou na Inglaterra, que
inclusive foi pioneira em diversas medidas formadoras do “welfare state”, o
estado de bem-estar social que floresceria na Europa a partir da metade do
século passado. Mas a Inglaterra também está liderando o combate à crise da
dívida com medidas de austeridade mais profundas e duras do que as de países da
comunidade europeia em processo de esfarelamento.
No
caso do governo conservador inglês, como observou o Paul Krugman em artigo
recente, além das razões discutíveis mas defensáveis para a austeridade, existe
um componente de puro e mal disfarçado ódio ao “social”, que sobrevive na elite
inglesa desde os bons e divertidos anos 20 e 30. Ou, para ser mais preciso,
desde sempre.
Entre
todos os objetivos declarados e não declarados do sacrifício de benefícios
sociais, está o deliberado desmonte do “welfare state” e o fim da
social-democracia. Quer dizer, esqueça os arrazoados econômicos e as
justificativas bem sonantes. Está-se assistindo a uma revanche.
Perigo
As
eleições legislativas francesas deram uma apertada maioria para os socialistas
e o apoio que o Hollande precisava para começar a fazer algo diferente no
governo. Mas o fato mais notável das eleições foi o bom desempenho, outra vez,
da direitista Marine Le Pen, que, como tem as mesmas ideias xenófobas e
retrógadas do seu pai mas é muito mais simpática e bem articulada, passa a ser
a personalidade mais perigosa da política francesa.
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