quinta-feira, 21 de junho de 2012



21 de junho de 2012 | N° 17107
L. F. VERISSIMO

Desencontros

Me desencontrei algumas vezes com ele. Quando cheguei ao Rio em 1962 – sem emprego, sem dinheiro, sem perspectivas, mas com amigos –, a Clarice Lispector se ofereceu para marcar um encontro meu com ele. Talvez houvesse algo para mim na agência em que ele trabalhava – ou dirigia, não me lembro mais. Também não me lembro se cheguei a falar com ele por telefone. Acho que não, e que nunca sequer ouvi a voz do Ivan Lessa. De qualquer maneira, o encontro não aconteceu.

Depois, na minha convivência esporádica com o Millôr, o Jaguar, o Ziraldo, o Tarso e outros na época do Pasquim, por alguma razão o Ivan nunca apareceu. Estava sempre para chegar ou tinha acabado de sair. Anos mais tarde, um grupo foi convidado a ir a Portugal – Millôr, os Caruso, Aroeira, eu e outros – para uma exposição de cartuns, se não me falha de novo a memória.

Estávamos hospedados num hotel de Estoril e foi anunciado que o Ivan Lessa, que vivia em Londres, estava na terra, onde vivia sua mãe, e iria se encontrar conosco no hotel. Finalmente, pensei. O mito vai virar gente e eu vou poder conhecê-lo e dizer como o admiro. Mas me convocaram para uma entrevista ou coisa parecida em Lisboa justamente na hora da visita dele. Foi nosso último desencontro. Agora não tem jeito. Fiquei só com o mito.

Chega

O Ivan Lessa pouco depois do Millôr... Este está sendo, definitivamente, um ano mal-humorado.

Realpolitikagem

“Realpolitik” é um termo conveniente para desculpar o baixo oportunismo, contradições ideológicas e calhordice em geral. O termo nasceu na Alemanha e tem uma longa história, sendo invocado sempre que um acordo ou um arranjo político agride o bom senso ou a moral. Há uma graduação na “realpolitik” que vai do tolerável (uma acomodação com o vizinho do lado para assegurar a paz no prédio, mesmo tendo que aceitar o cachorro) ao indefensável (o pacto Stalin/Hitler no começo da II Guerra Mundial, por exemplo).

É difícil saber onde colocar o pacto Lula/Maluf nessa escala. O hipotético acordo com o vizinho é um sacrifício pelo entendimento e o Stalin estava tentando ganhar tempo até ter um exército. No acordo com o Maluf, trocou-se uma história e uma coerência por um minuto e pouco a mais de espaço para o candidato do PT na TV. Ó, Lula!

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