30
de junho de 2012 | N° 17116
NILSON SOUZA
Aos quietos
A
batalha final (Scliar sempre me socorre na largada das crônicas difíceis)
talvez seja entre os extrovertidos e os introvertidos. Tenho lado nessa,
evidentemente, pois dou uma boiada para não falar em público e meu lazer
preferido é um bom livro. O Poder dos Quietos, da americana Susan Cain, pode
ser classificado nesta categoria, não apenas por liderar listas de mais
vendidos, mas também, e principalmente, por tocar numa ferida da sociedade
moderna: a extroversão compulsória.
Ai
de quem não curte festas, não tem boa oratória ou não mostra propensão para
trabalhar em grupo. Logo será rotulado de antissocial e condenado à terceira
suplência no time dos pretendentes à liderança. A autora do livro denuncia o
preconceito coletivo contra as pessoas reservadas e o culto exagerado aos
carismáticos num mundo em que se convencionou que só os ousados são
bem-sucedidos e só os sociáveis são felizes.
Na
solidão da madrugada, que é onde se refugiam os introvertidos, acompanhei dia
desses uma palestra da escritora no sistema TED (Tecnologia, Entretenimento, Design),
fundação cultural que divulga “ideias que merecem ser disseminadas”. Pois dona
Susan entrou no palco com uma maleta fechada e falou durante 20 minutos antes
de abri-la.
Só
no final, depois de defender respeito aos quietos e de afirmar que líderes introspectivos
tendem a ouvir mais seus liderados e a aproveitar melhor suas sugestões, ela
abriu a mala para mostrar o que carregava. Eram livros que pertenceram ao seu
avô e que representam para ela o momento mais gratificante de sua infância,
quando podia ler em silêncio na companhia do homem que a ensinou a valorizar
quietude.
Escolas,
escritórios e outros ambientes de trabalho privilegiam obsessivamente o
coletivo e a convivência, quando algumas pessoas – um grande número delas, na
verdade – se tornam mais criativas na solidão e no silêncio. Claro que é
preciso considerar os dois lados: extrovertidos também podem ser produtivos e
criativos. Aliás, a própria autora da tese lembra que todas as pessoas são as
duas coisas, com maior ou menor predominância numa das características. E há
ainda os ambivertidos, com metade e metade.
Antes
de encerrar sua instigante conferência, a escritora norte-americana deu três
conselhos ao público: 1) Parem com a loucura de só trabalho em grupo; 2)
Busquem a natureza e a contemplação de vez em quando; 3) Abram suas próprias
malas e, seja qual for o conteúdo, mostrem-nos e assumam seu gosto por elas.
Faz
sentido. Certamente vamos perder a batalha, pois o mundo multimídia favorece os
alegres, os expansivos e os festeiros.
Mas
é um consolo saber que não estamos sozinhos na nossa introspecção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário