Luíza
Karam é repórter de ÉPOCA em São Paulo.
Um clichê do Dia dos Namorados. Só que
ao contrário
Chegou
o dia dos namorados. Abriu-se o cirquinho dos chavões. É impressionante como as
pessoas se amam demais. Querem contar pra todo mundo que o parceiro é ideal,
que o romance é profundo, que a alegria é plena. Tudo bem, cada data com suas
peculiaridades. Acontece que aqueles dizeres que estampam almofadas com
bracinhos e bichos de pelúcia parecem tão… superficiais. O dia vira
exclusivamente comercial.
Sem
abrir mão da estética lugar-comum, mas na contramão dos meros blablablá, a
escritora Bruna Beber resolveu mergulhar no tema. Relatou o cenário dos românticos
de um jeito diferente, muito mais sensato, e aprofundou as verdadeiras questões
de quem resolve se comprometer.
A
escritora Bruna Beber (Foto: Edy Beny)
Com a ajuda das amigas Daniela Arrais e Luiza Voll,
Bruna, 28, transformou uma reflexão particular sobre namoro num verdadeiro
manifesto, por escrito. Deixou seu texto parecido com orientações de autoajuda (só
que sábias), do tipo: “Não tenha a obrigação de corresponder às expectativas do
outro em todos os momentos. Ele as criou. Não o obrigue a corresponder às suas
expectativas em todos os momentos. Você as criou”. Juntou a isso algumas
imagens fofas e criou um Power Point, igualzinho àqueles que a gente (ainda) recebe
nas correntes de e-mail. Com direito até à fonte Comic Sans.
“Me
incomodava ouvir meus amigos reclamando ‘Ah, quero namorar!’ ou ‘Quero
encontrar alguém exatamente assim’. Eu acho que não é por aí. Essas coisas
simplesmente acontecem”, diz Bruna. Ela vinha observando os relacionamentos dos
outros e os dela mesma há algum tempo.
Aí,
em fevereiro, botou tudo no papel. Escreveu por 40 minutos e enviou pros amigos.
Teve gente que pensou que fosse autoajuda estrangeira, outros nem acreditaram
quando ela se acusou como autora. “Fiz questão dos clichês”, conta ela que já escreveu
três livros de poesia — no fim deste ano, lança mais um — e já ganhou até prêmio
de revelação literária.
A
jornalista Daniela Arrais incentivou a amiga a investir na linguagem de Power
Point, para publicar como corrente no Dia dos Namorados. O resultado é um sarro
recheado de verdades e sensibilidade. Mostra uma forma de encarar os
relacionamentos como uma construção do dia a dia, em que mais vale o respeito mútuo
— exatamente como Bruna enxerga o amor. “Relacionamento é difícil. A gente tem
de estar junto porque quer muito.”
Aqui
embaixo, o Power Point da Bruna. Logo em seguida, um poema de Balés, o segundo
livro dela, que foi escolhido especialmente pra esta data.
artigos
para presente
aos
corações namorados
desejo
uma forração de pneu
para
tratores, é desnivelada
a
estrada do amor
e o
raro dom de transformar
as máquinas
pesadas de convivência
em
miniaturas de máquinas pesadas
da
convivência
uma
jaqueta corta-frio para distâncias
convenientes
e forçadas, brigas de quarta
série
primária e joguinhos de salão
ao
relento. já aos corações devotados
aos
seus corações namorados desejo,
sobretudo,
o enrosco, aquele laço fatal
do
nenhenhem do carinho e o tempo
medido
por um relógio de pulso quebrado.
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